sábado, 30 de outubro de 2010

A Última Noite em Praga - Final

Saímos do restaurante-boate por sugestão de Gama. Por mim ficaríamos lá mesmo. Era tranqüilo, não estava muito cheio e a bebida era barata. Como o plano anterior envolvia ir para esse outro lugar, acabei indo junto sem reclamar.

Seguimos em direção à Flora e pegamos um táxi. Os caras não deixaram a “gracinha” aqui pagar a parte dele. Foi até barato, coisa de 250 coroas tchecas (25 reais). Paramos a uma rua próxima ao centro num lugar um pouco apertado. Tinha um monte de gente na porta desse clube. A entrada custava 150 coroas tchecas (15 reais), mas o esquema era entrar sem pagar.

Havia nevado nos dias anteriores e parado a poucos dias, fazia muito frio do lado de fora, cerca de menos oito graus, e com isso, a neve que começava a derreter virava gelo nas calçadas. Então você imagina que alguns lugares a coisa era escorregadia. No equilibramos do outro lado da rua e traçamos o plano.

O manolo que sempre esqueço o nome possuía uma espécie de número em um papel com um carimbo (sim tudo nesse lado do mundo envolve carimbos).  Ele entraria, pegaria o carimbo no braço (não falei?!) e tentaria arrumar outro número lá dentro. Gama então entraria e pegaria outro número, e eu seria o último a entrar. Assim todos não pariam e a noite seria mais feliz. Hehe.

O manolo atravessou a rua e os brutamontes na porta o barraram. Gama e eu ficamos de longe observando a cena. Ele entregou o número, o gigante olhou, carimbou e deixou passar. A etapa um estava completa. Em três minutos o manolo voltava ao lado de fora. Pegou um número e entregou a gama. O papel tinha o número 15.

Então os dois seguiram se equilibrando sobre o gelo e Gama foi barrado na porta. Mostrou o papel com o número, foi carimbado e entrou. Eu fiquei lá na expectativa. Eles demoraram um pouco mais dessa vez, e eu com minha cara de bunda sozinho no frio. Cerca de dez minutos depois eles saíram.

- Oh Belino, a gente não conseguiu um número para você.

- E aí? O que vamos fazer.

- Você vai para casa e a gente fica.

- Sem graça, sério caramba.

- Toma aqui, é o mesmo número que eu usei.

- Não vai dar problema isso não? Olha o tamanho dos caras na porta, se eles me empurram eu estou lascado. Com esse gelo todo é capaz de eu ir parar dentro da estação de metrô.

- Fica frio e pega esse número. Fica tranqüilo, vai dar certo.

Peguei o tal número, me benzi e segui-os para a porta. Ao chegar lá me equilibrando para não cair, não deixei que os brutamontes me barrassem, mostrei logo o papelzinho. Gama e o manolo entraram e ficaram de longe olhando. O brutamonte mandou que eu passasse e outro cara me carimbou. Pude entrar tranquilamente.

O som de hip-hop contaminava o ar junto com a fumaça. Em alguns clubes ainda é permitido fumar dentro. Isso mata. O clube só tinha negão. Africanos e mais africanos dentro e umas tchecas doidas por eles. Era um ambiente até legal não fosse a fumaceira de cigarro. Entramos e guardamos os casacos. Fui para pista de dança com Gama enquanto o manolo ficava de longe só no balanço.

Havia um povo asiático lá também. Um maluquinho que se achava o Ne-Yo da coréia, e umas “japas” também. Dancei até cansar mostrando toda a malemolência brasileira no hip-hop (é eu danço legal). Cansei e procurei um lugar para sentar perto da pista. Havia algumas cadeiras disponíveis perto das japinhas, aproximei-me e sentei-me.

Fiquei lá um tempo para respirar um pouco. Uma das japinhas se aproximou e sentou ao meu lado.

- Cansou de dançar? – ela perguntou.

- É preciso dar uma respirada.

- Se importa se conversarmos um pouco?

- Não, por quê?

- Nada, você parece legal. Sou da Sibéria e você?

- Brasil.

- Oh, eu nunca fiquei com um brasileiro. – falou sentando no meu colo.

Ai meu Deus, eu juro que estava me comportando. A mulher era doida, sentou no meu colo e começou a acariciar as partes. Fiquei sem reação, mas aquilo estava errado. Tinha uma namorada e também tinha que manter a índole.  Não dava para catar geral e no dia seguinte chegar à Polônia com a cara lavada.
Pedi licença e saí dali. Não que eu fosse mole, mas sempre respeitei a pessoa com a qual estava comprometido. Gama aproximou-se e falou:

- Cara, vocês brasileiros são terríveis. Sempre atrás das mulheres. Eu preciso ir para casa, amanhã tenho um jogo de futebol. Você vai ficar aqui?

- Vou ficar mais um pouco. A coisa aqui tá legal.

E então Gama se foi e eu fiquei com o manolo. A siberiana não tirava o olho e a única coisa que me sobrou foi dançar com uma gordinha para ela parar de me secar. Deu certo, ela catou um negão e ficou por isso mesmo. O problema foram as outras siberianas com ela. Tinha uma que MEU DEUS! Suprema, mas não era para mim. Era melhor eu ir para casa. Ao menos não estava bebendo para não fazer besteira.

Despedi-me do manolo que estava se pegando uma gordinha doida e saí do clube. Passei pelos grandalhões da porta, desci os degraus e começou o problema. Saí escorregando e quase, mas quase mesmo caí no chão. Por sorte consegui me equilibrar a tempo. Seria um vexame. Havia gente do lado de fora. Duas minas se beijando e chamando um cara para se juntar a elas, e mais dois carinhas discutindo sobre futebol, além de outras pessoas que não lembro. Todos ficaram olhando para mim esperando eu cair. Não iria dar esse gostinho a eles.

Segui adiante até o cruzamento onde havia alguns táxis. Comecei a andar pela calçada, passei pelas meninas se beijando, pelos caras discutindo futebol e ao chegar ao cruzamento... ZUP! Pernas para o ar costas e cabeça no chão.

Foi um tombo terrível, mas eu não conseguia fazer outra coisa senão rir. Todo mundo na rua ria de mim e eu junto com eles. Tentei levantar-me... ZUP! Novamente. A coisa estava feia, nem ao menos levantar eu conseguia.  Uma das meninas que estava beijando a amiga ou seja lá quem fosse ajudou-me então a levantar. Quase caindo novamente eu consegui sair de lá. Entrei num táxi e voltei para a casa. Vergonha... ao menos não veria mais aquele povo. Estaria na Polônia no dia seguinte.

BR Na Europa!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Última Noite em Praga - Parte 1

O último dia em Praga prometia. Era uma sexta-feira, dia de farra e eu queria sair para tomar a última cerveja. Arrumei uma parceria da boa. Um manolo africano de Guiné, chamado Gama. Ele era casado com uma amiga de Chun Li, não bebia, mas curtia dançar e tudo mais. Durante o dia já havia arrumado todas as minhas coisas. Apenas deixei fora do mochilão roupas que usaria no dia seguinte e a bíblia para rezar durante o dia a fim de evitar outra situação incômoda como minha a ida anterior a Polônia.

Tomei um banho, fiquei cheiroso, botei uma roupa bonita, catei como chegar à casa de Gama e segui o meu caminho. Tinha combinado de encontrá-lo lá e depois iríamos para um bar. Na fria noite de Praga, acertei o trem urbano que deveria pegar e como não conseguia enxergar direito devido a neblina memorizei que ele morava próximo a um sexy shop.

Desci do trem no local certo, achei o prédio e interfonei. Ele pediu para que subisse, pois ainda estava se arrumando. Tudo bem, daria tempo de tomar um chazinho. Após esperar o nego se arrumar, saímos de casa e ele disse.

- Precisamos ir ao shopping primeiro, um amigo nos espera.

- Qual shopping? – eu só conhecia dois, mas gostava de parecer entendido. Hehe.

- Flora. Não tem problema, né?

Ah peraê, cara. Eu tava perto de Flora e o cara me fez ir até a casa dele pra voltar pra lá? Da casa dos Hakkinen para o shopping dava até para ir andando. Sacanagem.

- Não. Tranqüilo. – falei meio pirado.

Entramos em outro trem urbano. Coloquei minha passagem como de costume e o Gama não.

- Ow! Você não vai pagar?

- Pra quê? Eles nunca me pararam, não seria hoje que parariam.

Hmm, interessante. No metrô vi um monte de asiático turista sendo parado para checagem de bilhetes, até mesmo tchecos, mas nunca tinham me parado. Como eu havia pagado, não tinha problema. Seguimos para Flora numa boa e entramos no shopping que estava quase fechando.

Um carinha apareceu logo que entramos, era outro mano da Guiné. Gama e ele começaram a conversar num idioma estranho. E eu fiquei meio que sem entender nada.

- Que idioma é esse que vocês tão usando, cara?

- Francês. Pensei que você entedia.

Eu até entendo quando alguém fala francês comigo, e chego a responder numa boa, não em francês é claro. Mas aquilo parecia com nada. Muito tenso. Ablublublublublu ET blubluba. Era o que eu entendia.
Saímos de Flora e ficamos meio sem rumo. Eu conhecia o pub ali perto, mas Gama tinha outra idéia.

- Eu sei um restaurante aqui perto que dizem que é bacana, a gente pode ir lá, daí não precisamos ir ao centro agora.

A “noite” em Praga e em muitas cidades européias inicia-se 00h. É quando as boates estão enchendo e o povo saindo de casa para curtir. Seguimos então para esse tal restaurante para fazer o esquente. O lugar não ficava distante, andamos um pouco e logo o achamos.

Era um lugar bem legal. Aconchegante, música ambiente, boa iluminação e se encontrava cheio. Certamente um bom restaurante. Um garçom muito simpático servir-nos-ia. Pedi uma cerveja, Gama uma coca-cola com limão e o outro carinha, não lembro o nome até hoje e por isso não criei um nome para ele, pediu um suco. Tomei minha cerveja tranquilamente enquanto conversávamos.

De vez em quando ouvíamos uma barulheira de música eletrônica que rapidamente cessava-se. Era estranho. Eu não sabia de nenhum clube ali por perto e nem os rapazes. Resolvemos então perguntar ao garçom.

- Que barulheira é essa que ouvimos de vez em quando?

- Ah! Está rolando uma festa anos 80 no andar debaixo.

- Ué, mas isso aqui também é um clube?

- É cara, vocês podem ir se quiserem, só precisavam fechar a conta aqui.

- Quanto para entrar?

- Nada, basta estar no restaurante.

Opa, que alegria! Pagamos a conta, guardamos os agasalhos e descemos. Havia um porão grande debaixo de nossos pés e não sabíamos. Ao abrir a porta a música contaminou os ouvidos. Estava tocando Madonna. O ambiente era escuro e havia um bar que tomava quase todo o espaço. A área de dança era pequena mas o pessoal parecia se divertir. Algumas cadeiras, um monte de gente doida se balançando... era um lugar legal para se começar a noite.

Fomos direto para pista de dança. Gama mostrou seus passos ao maior estilo Ne-Yo made in Guiné enquanto eu dançava aleatoriamente. O outro carinha ficava apenas se sacudindo na dele, observando o mulheril frenético.

Eu curti bastante o som do local, gosta de músicas antigas principalmente dos anos 80. Enquanto eu lançava passos aleatórios senti alguém se esfregar em minhas costas. Virei para verificar, caso fosse algum cara metido a “chacrete”. Era uma ruiva, então deixei. Eu estava dançando numa boa de costas para ela, e de repente ela agarrou minha mão, queria dançar comigo.

Ela se insinuava toda, ia até o chão. Era uma garota linda, acho que a mais bonita que tinha visto em toda a Rep. Tcheca até então, coisa de cinema mesmo. Ruiva, olhos azuis, corpo escultural, ela usava um vestido vermelho bem colado ao corpo. Eu estava babando, a carne é fraca e o sangue brasileiro fervia. Ela sorria enquanto dançava insinuante tipo dizendo: Eu quero você seu BR safado.

Eu não falei uma palavra, apenas curti o momento. A música acabou e ela deu-me um beijo no canto da boca dizendo tchau. Ai eu fiquei bolado. Ela estava subindo a escada, então fui atrás. Provocou e ia me deixar assim na cara dura? Quando me aproximei ela não deixou que eu falasse nada:

- Ó, você é uma gracinha. Adorei você. – falou pegando no meu rosto. – De onde você é?

- Brasil.

- Nossa, tão longe. Você é perfeito, uma pena que não posso ficar com você, preciso encontrar meu namorado. Se não fosse isso a gente aproveitaria bem a noite. – ela pegou e deu um outro beijo no canto da boca se virando.

Nossa senhora, que mulher louca. E tinha namorado. Foi aí que caiu a ficha: Comporte-se mocinho, você agora é comprometido, respeite sua polaca. Voltei para dançar alegre por ter sido “a gracinha” de alguém tão bonita. Não peguei, mas valeu o elogio. É fácil mamãe dizer que é você é bonito, mas um mulherão daqueles, putz. Mas eu precisava respeitar aquela que eu clamei como namorada. Decidi que não cairia na gandaia aquela noite, sou menino direito.

Ficamos lá um pouco mais. Mas esse não era o nosso destino final, iríamos a outra boate, no centro da cidade. Saímos do “restaurante-club” e seguimos adiante para o resto da noite.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Encontros...

O dia seguinte já estava todo agendado. Primeiro iria à embaixada, depois iria dar um passeio com a Sra. Hakkinen para que ela me mostrasse parte da cidade que eu não conhecia. Logo pela manhã fui ao centro, rumo a embaixada brasileira. Esse negócio de embaixada é sempre um pé no saco. Cheguei e fui logo atendido pelo cônsul. Ele ficou surpreso ao me ver novamente e perguntou como estava o processo de abertura da empresa.

- Não há empresa nenhuma. Eu desisti e resolvi viajar um pouco mais.

- Sei, mas segundo a secretária o assunto de nossa conversa seria relativo a isso, certo?

- Exato. Gostaria de saber um pouco mais sobre o apoio financeiro da União Européia. O senhor não me comunicou.

- Ah, sim. Existe esse apoio, mas apenas a pessoas que possuem direitos como cidadãos tchecos, residentes e possuidores de visto permanente ou temporário. O senhor possui algum desses documentos?

- Não.

- Então não pode tê-lo. O processo é um pouco burocrático, mas semelhante ao sistema do BNDES, porém caso você mantenha a empresa não precisará reembolsar a união européia, desde que siga os passos de seu relatório inicial. Como o senhor não tem como dar início ao processo de abertura de empresa, acho que nossa conversa acaba aqui.

Simples e grosseiro. Sem chances pra mim e mais uma vez eu saia da embaixada murcho. Não tinha porque ficar em Praga, era melhor ir para a Polônia e ficar com minha nova namorada. Sai da embaixada, segui para estação e comprei passagens novamente para Łódź, dessa vez sem volta. Eu iria no sábado a noite, sim novamente a noite. Não havia passagens para Katowice durante o dia. Se eu desse de cara com o “russo” novamente eu acho que choraria.

Voltei para casa para esperar a Sra. Hakkinen, tínhamos combinado de sair para que ela me mostrasse alguns lugares. Ao abrir a porta tive a surpresa. Mika estava lá. Ela abriu um sorriso e me cumprimentou. Foi bem simpática, mas a situação era incômoda. Não havia ninguém na casa a não ser ela. Não queria ficar lá com ela, eu poderia fazer alguma besteira. Então, chamei-a para tomarmos um café na galeria que ficava próximo a casa. Ela aceitou.

Conversamos um pouco, sobre a vida. Ela só falava do trabalho e eu da viagem, estava quase como o chato do trem. Na verdade eu só queria fazer com que o tempo passasse e a Sra. Hakkinen chegasse em casa. A Mika estava lá porque precisava ir ao médico. Iria voltar no mesmo dia para Ostrava, o que, não minto, deixou-me um pouco aliviado. Após um café bem enrolado, ela recebeu um telefonema. Era Chun Li certamente dando notícia ruim. Sua avó havia caído de uma cadeira e não conseguia se levantar. Ela estava presa dentro de casa e não tinha como ninguém entrar.

A queda da vovó me livrou da situação de ter de conversar com minha ex-noiva como se nada tivesse acontecido. Havia uma grande comoção na família para ajudar a snhora de certa idade, mas ninguém possuía a chave do apartamento a não ser o tio de Mika. A saída com a senhora Hakkinen foi cancelada devido a esse fato.

Como não tinha nada para fazer liguei para a Priceless Girl para avisar que eu estava voltando no sábado. Ela se desesperou:

- Mas rápido assim?! Pensei que você levaria um mês aí?

- Não gostou da notícia?

- Eu adorei, ficarei te esperando.

- Ah, tem mais um detalhe, dessa vez não ficarei em hotel.

- E onde você vai ficar?

- Em sua casa.

Acho que se fosse vídeo chamada eu poderia ver ela esbugalhar os olhos de susto. Ela gaguejou, falou que ia comunicar a mãe. Estava feito. Eu iria de mala e cuia para Polônia. 

BR Na Europa!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Formatura...

Era quase hora de começar a me arrumar quando larguei o videogame nas mãos de Jerry. Desci e fui me arrumar. Um banho rápido para tirar o suor do corpo era o suficiente. Passei uma camisa e comecei a me vestir. Uma meia pequenina, um meião de futebol e uma meia para sapatos por cima. Calças, cinto, uma camisa de manga longa, outra listrada que havia acabado de passar e só ficaria faltando o terno. Fui ao espelho me barbear e tentar colocar o cabelo de alguma forma que não ficasse todo esburacado. Estica daqui, cera no miolinho, escovadas e até que não ficou de todo mal. Deu para tapear, coloquei o terno por cima e pronto.

Subi para encontrar Chun Li e a Sra. Hakkinen. Elas já estavam prontas. O irmão de Chun Li ligou e pediu para que ela comprasse flores, saímos então nós dois para realizarmos o desejo dele enquanto a senhora Hakkinen esperava o ator de propagandas. Olha, a essa altura do campeonato eu já odiava neve ao extremo. Aquela noite estava fria e não nevava, mas a neve acumulada nas ruas era algo angustiante. Conseguimos sair de casa e pegamos entramos na estação de metrô. Paramos em um mercado e compramos as tais flores. Seguimos para o metrô e fomos ao centro.

Ao chegar lá a Sra. Hakkinen já estava a espera junto com o ator. Saímos da estação e seguimos para um prédio antigo. Logo na entrada olhei para cima e vi uma escultura de um homem montado em um cavalo morto de cabeça para baixo. A escultura estava presa ao teto, coisa que você só vê em Praga. Fomos adiante e Chun Li mostrou-me que lá havia uma boate onde apenas tocava-se música dos anos 80. Parecia bem legal, mas não era esse nosso destino. Um pouco a frente havia um monte de gente em uma estrutura de vidro. O irmão de Chun Li estava lá angustiado a nossa espera.

Chun Li entregou as flores a ele que por sua vez entregou-nos os convites para que pudéssemos entrar. Tiramos uma foto lá fora e seguimos para dentro do prédio. Descemos uma escada e lá havia onde poderíamos deixar nossos agasalhos. Ao seguir adiante vi um salão imenso abaixo e camarotes para todo lado. O irmão de Chun Li guiou-nos até uma mesa pedindo para que aguardássemos a festa começar, ele ficaria com a família da namorada.

O irmão de Chun Li, Sra. Hakkinen, o ator e Eu


Se você acha que festa de formatura tcheca é igual à brasileira onde um monte de gente se reúne pra comer e beber de graça se engana. Eu também pensei assim e me dei mal. Por sorte tinha levado a carteira com algum dinheiro. O lugar estava um pouco abafado e a sede logo apertou. O ator perguntou-me se gostaria de beber algo. Opa! Falou a minha língua, vamos uma cervejinha para alegrar a noite. Chun Li e sua mãe não são muito chegadas a álcool então ficaram somente no suco.

Chun Li, Eu e o ator já meio bebado


O ator chamou-me então para ir até o bar, pediu as duas cervejas e os sucos e PAGOU! Isso mesmo... Ele pagou, cara. Que decepção, pensei que ia comer e beber de graça e o que vi foi um bar lucrando. Muita sacanagem isso. Voltei a mesa e entreguei os sucos. Eu fiquei muito chateado com tudo, mas não tinha alternativa, era pagar ou pagar. Os formandos começavam a desfilar no salão de festa no andar de baixo por turma. Era gente que não acabava mais. Eu não iria beber cerveja naquela formatura, então mudei para o uísque que era quase o mesmo preço.

Uma mulher que estava acompanhada e sentava-se a mesa ao lado da nossa ficou olhando para mim. Analisou de cima para baixo e deu um sorriso maroto. Eu respondi com outro sorriso meio sem graça, se o marido dela vê um treco desses você já imagina a merda que seria. Peguei meu copo e comprei outro para o ator que contava suas mirabolantes histórias. Numa dessas, ele bateu o olho numa estudante e disse.

- Nossa que peitão! Tô emocionado, eu quero ela.

Que figura, o cara não chegava em mulher nenhuma e ficava naquele fogo. Ai eu soltei:

- É parece uma krava.

Krava em tcheco significa vaca, mas também significa puta, eu não sabia dessa última. Chun Li deu-me uma pisada no pé e disse para eu tomar cuidado com o que falava. O ator só fazia rir enquanto outros convidados olhavam feio para mim.

- Krava também significa puta.

Que vergonha. Eu meninão amarelo querendo mostrar conhecimento e fazendo cagada. Também ficou por isso mesmo. Minha ignorância foi perdoada. A festa comia solta no andar de baixo para os estudantes. Um cantor que havia formado na mesma universidade se apresentava com música popular tcheca. Enquanto isso eu estava em minha segunda dose de uísque junto com o ator. A Sra. Hakkinen comprou alguns salgadinhos para que pudéssemos empurrar com a cachaça, ela não parava de tirar fotos. Aliás, um fato interessante. Ela tinha uma máquina bem antiga, que ainda usava filme, e estava lá se esbaldando com seu material fotográfico.

- É importante tirar fotos, tenho um monte de filme em casa para usar. – era realmente uma figura.

Depois do cantor se apresentar era a vez de uma dançarina profissional também formada na universidade. Ela demonstraria como dançar vários ritmos inclusive SAMBA! Aquilo eu precisava ver. Ela começou com valsa, em seguida salsa, merengue, lambada, bla bla bla, até o tal samba. Que papagaiada, a mulher dançou samba do mesmo jeito que dançou valsa, só que mais rápido. ¬¬

Após a sambista de meia tigela apareceram uns garotos dançando break. Eu não sei por que esse povo insiste em dançar break se não tem ao menos ritmo. Fazer a papagaiada é possível com prática, mas fazer a papagaiada com ritmo tem que saber dançar, carai!

E finalmente o momento da noite. As turmas pegaram umas lonas e começaram a sacudir. Os alunos ficavam nas pontas esticando a lona como aqueles elásticos de bombeiro e ficavam gritando no andar debaixo. O objetivo era simples. Que estava em cima tinha que jogar o dinheiro pros infelizes. O dinheiro arrecadado pela turma seria usado para que eles bebessem naquela noite. ¬¬

Eles não me pagaram nenhuma cervejinha e eu ainda tinha que jogar meus trocados para eles. Peguei cinco moedinhas de 10 coroas e joguei pros infelizes. Todo mundo tava jogando um monte de dinheiro e eu não podia sair de pão duro lá. Joguei cinco moedas com intervalos de 4 segundos cada e pareceu que eu estava jogando bastante. Os infelizes embaixo pareciam que morriam de fome catando o dinheiro. Mas era por uma boa causa, eles precisavam encher a cara.

Era hora de dançar. O povo se amontoava enquanto o DJ soltava o som. Músicas antigas, tchecas e americanas. Rolou de tudo. Chun Li queria muito dançar, mas eu ainda estava bebendo a última dose. Como os ensinamentos de minha mãe diziam para nunca deixar o meu copo à toa, dei uma sugestão.

- Por que você não vai com o ator? – falei.

O ator então a pegou pela mão e levou lá para baixo. A Sra. Hakkinen só fazia rir.

- Algo aconteceu? – perguntei.

- Não, não foi nada. É que você disse para o ator levá-la para dançar só que ele não sabe.

Terminei meu copo e aproveitei para ir ao banheiro. A mulher casada que me olhava anteriormente me seguiu. Na porta do banheiro, antes que eu entrasse, ela perguntou:

- Gostei de você. Está sozinho?

Olha a confusão, imagina se o marido dessa senhora me aparece lá na hora e dá uma de xiliquento.

- Comporte-se. – falei dando um sorriso safado.

- Posso me comportar se você pegar meu telefone. – falou me entregando um cartão.

Agradeci e entrei no banheiro. Rezei pro marido da infeliz não entrar lá e me quebrar todo enquanto eu urinava. Por sorte ele não apareceu. Voltei ao camarote e respirei fundo. É cada doida que me aparece. A Sra. Hakkinen então me mostrou onde Chun Li e o ator estavam. Eu nunca tinha visto ela tão vermelha. Parecia constrangida ao estar dançando com alguém tão alucinado. Não demoraram nem cinco minutos lá embaixo. Eu ria da cara deles, e ria de pena ao ver a cara da Chun Li. Ao voltarem o ator parecia em êxtase enquanto a sua parceira estava mais decepcionada que tudo. Fiquei com pena e a chamei para dançar.

Divertimo-nos bastante aquela noite. Com o ator comentando sobre os peitos de uma das formandas, com máquina fotográfica perfeita dançando e bebendo. Ao voltar para o camarote vimos o ator torrando a paciência do irmão da Chun Li, ele havia ido lá para apresentar sua namorada à mãe e aos outros. Cumprimentamos e sentimos que era hora de voltar para casa, antes que o ator fizesse alguma besteira.

BR Na Europa!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Corte de cabelo no "Albergue"

A idéia de voltar a Praga era pegar minhas muambas e voltar à Polônia, mas como rolou o lance da União Européia eu pensei que poderia ficar por lá. Logo pela manhã liguei para embaixada para marcar um novo horário com o cônsul. Feito isso a Sra. Hakkinen apareceu avisando que tínhamos um convite para ir numa festa. A namorada de seu filho mais velho estava se formando e seria legal que eu fosse. Topei a parada, mas tinha um pequeno detalhe. Eu precisava cortar a minha juba.

Como Jerry, o mais novo dos Hakkinen, também estava cabeludo, a senhora Hakkinen resolveu levar-nos a sua cabeleireira de confiança. Eu fiquei logo bolado, porque não é qualquer um que sabe cortar cabelo duro. Tá, o meu não é tão duro, mas comparado aos cabelos tchecos o meu era “hardcore”.

- Não tem problema, Belino. Ela tem marido de cabelo diferente também, vai fazer um bom trabalho em sua cabeça. – já viu que esse negócio não iria dar certo, né?

Saímos os três para arrumar as cabeleiras. Seguimos em direção ao centro, e paramos na estação Muzeum, onde trocamos de linha. Paramos umas duas estações antes de onde ficava o maior shopping de Praga. Era um lugar residencial. Eu ainda não tinha passado por ali, mas por algum motivo me lembrava algumas ruas polonesas. Bem estranho mesmo.

Chegamos a um prédio e a Sra. Hakkinen usou o interfone. Jerry e eu estamos com ela, mas sem vontade nenhuma de participar dessa seção de beleza. Era melhor ter ficado em casa jogando Halo, mas como eu precisava apresentar-me bem para a bendita festa, o corte de cabelo era necessário, além do mais, meu cabelo quando grande é algo bem feio.

A porta se abrir diante a nós. Havia um pequeno corredor defronte. Era escuro e nele uma escada. Você já assistiu “O Albergue”? Pois bem, me senti no filme. Era o mesmo clima. Coisa de louco mesmo. O cheiro também era bem estranho. De coisa velha. Jerry pareceu não se importar e passou na frente subindo as escadas. Eu fiquei olhando e hesitando entrar, enquanto a Sra. Hakkinen dizia:

- Vamos, estamos atrasados.

Parece bobagem, mas eu pensei: “Será que agora vão arrancar minhas tripas como no filme só porque não casei com a filha dela?”. Isso ficou só no pensamento e fui subindo calado.  Na escadaria havia algumas janelas de vidro que deixavam a luz entrar, só que ela vinha “cortada” por grades de vidro, o que deixava o ambiente mais sinistro. Chegamos ao último andar e uma porta se abriu.

Uma loira sorriu e começou a conversar com a senhora Hakkinen. Entramos; era uma pequena sala com acessórios de salão de beleza. Consegui respirar tranqüilo assim que tirei aquelas cenas fortes do filme de minha cabeça. Jerry seria o primeiro a cortar a juba e eu iria em seguida. Peguei uma das revistas de fofoca de artistas tchecos pra dar uma olhadinha enquanto esperava.

O corte de Jerry não demorou muito e logo era minha vez. A mulher mandou-me sentar a cadeira. Aconcheguei-me e ela veio com a capa protetora. Foi aí que começou o pepino. Ela perguntou algo sobre o corte e eu lá com minha cara de bunda. A mulher não falava nada em inglês, NADA. Eu sinalizava de um lado, apontava de outro, amassava a cabeleira para mostrar a altura... a coisa estava complicada. Peguei e pedi a Jerry que traduzisse para mim:

- Você é a profissional aqui, faz o que achar que fica bom.

Jerry traduziu a frase e ela falou:

- Dobrý. – ou algo do tipo, já não lembro muito da língua tcheca.

Ela começou o corte. Picota daqui, máquina raspando acolá. Que tristeza, eu olhava o corte sendo feito no espelho e via a cagada sendo feita. Não era nada parecido com o meu corte tradicional. Deixe pra lá. Se ficasse pior que aquilo iria pedir para raspar. Era melhor ficar careca.

O corte foi feito. Eu sinceramente não gostei, ficou bem esquisito. Ainda mais com o penteado que ela me arrumou. Fazer o quê? Ao menos eu sabia que o cabelo cresceria novamente, ainda teria salvação. Talvez com um penteado diferente desse para passar despercebido na festa. Deixa pra lá.

A Sra. Hakkinen iria fazer algo demorado no cabelo e disse para irmos para casa. Falou que pagaria tudo e que eu não me preocupasse. A noite por volta das 10 teríamos a festa para ir. Jerry e eu voltamos para o apartamento para aproveitar o resto da tarde e jogar um pouco de videogame. A noite prometia...

BR Na Europa!

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

De volta a Praga com uma praga falante

Como não fazia tanto frio tinha certeza que a viagem não seria tão sofrida quanto a ida para Łódź. Seria meio complicado mais dezoito horas dentro de um trem novamente. Eu já não teria a mesma paciência para agüentar tamanho sofrimento. Aquela viagem PRECISAVA mais do que tudo ser rápida e tranqüila, pois a meta era chegar a Praga antes do jantar.  Também não achava que seria legal chegar tarde a casa dos Hakkinen. Eu tinha as chaves e tudo mais, mas acho que seria bem rude chegar e não falar com ninguém.

Enquanto o trem seguia para Katowice e eu rezava para que nenhuma pausa acontecesse, eu notei o quão cheio o comboio estava. Só em minha cabine havia quatro pessoas. Talvez por ser manhã estava tão cheio assim, não sei dizer. Só sei que me sentia mais seguro. Havia me prometido que trens noturnos nunca mais, e assim pretendia que fosse.

A viagem foi linda no primeiro trecho. Consegui curtir as paisagens sem a frustração de ficar “estacionado em canto algum”. Em cerca de três horas e meia eu estava na estação de Mordor, ou melhor, Katowice.
Aquele lugar era assombroso não importava a hora do dia. Como já sabia todo o esquema da estação, parei e olhei o quadro de horários. Teria que esperar uma hora e meia pelo meu trem. O frio dentro do saguão era imenso e o vento que corria só fazia piorar. Os pombos dando vôos rasantes sobre as cabeças eram coisa de louco, ao menos não cagaram em mim.

Priceless Girl havia preparado uns sanduiches para a minha viagem. Foi ótimo, pois não precisei comprar comida. Segui para a cafeteria para passar o tempo. Um cafezinho para esquentar o peito e só. Ainda tinha cerca de quarenta e cinco minutos naquele inferno gelado. Como a cafeteria era bem pequena, não dava para eu ficar lá com uma xícara apenas ocupando lugar onde outras pessoas poderiam sentar. Saí e fui para o mesmo banco que fiquei esperando na primeira vez, em frente ao guichê de informações. O frio estava de lascar, fazia cerca de -16 graus.

Comi um chocolate e peguei a bíblia para ler. A reza para não ficar no meio do caminho precisa ser forte. Vi um rapaz com cara de estrangeiro próximo a mim. Ele andava de um lado para outro sem parar.
- Cara estranho. – pensei. – Não tem cara de polaco, ou de ser por essas bandas, é melhor deixar quieto, não quero confusão pro meu lado dessa vez.

Era hora de seguir para o trem. Peguei meus bagulhos e fui para a plataforma. O trem já estava lá esperando para zarpar. Entrei, procurei uma cabine vazia como de costume e me acomodei. O trem estava bem aquecido, não tinha do que reclamar. Sentei-me coloquei o chIpod no ouvido e esperei que partíssemos.
Em poucos instantes o cara maluco que andava de um lado para outro chegou a porta da minha cabine, abriu e perguntou em inglês se podia sentar-se lá também. Como não sou dono de nada liberei a entrada do infeliz. Ele tirou quase trinta quilos de capote do corpo e sentou-se. Respirava ofegante, e tinha um motivo. Assim que ele entrou na cabine, o trem partiu.

- Ainda bem que consegui chegar. – resmungou em português.

- Ou, você fala português cara? – perguntei entusiasmado.

- Pow! Falo sim, você é de onde?

- Sou de Salvador. E você?

- São Paulo. Você mora aqui na Polônia?

- Não, estou só de passagem. Estou voltando a Praga.

- Ah! Então já conhece Praga? Vale a pena mesmo a cidade? Também estou indo para lá.

Ai começou o bate papo de uma pessoa só. Ele começou a contar a viagem dele pelos cantos que havia passado. Berlin, Amsterdã, Estocolmo, Oslo... e estava saindo de Krakow para ir a Praga. A coisa andava até bem, o negócio é que o cara não parava de falar um minuto sequer. Era um monólogo daqueles bem chatos. O cara estava emocionado por estar passando frio. Que droga de emoção é essa? Cara masoquista. Ele simplesmente não parou de falar um segundo, do frio da Suécia, dos lugares que viu em Berlin, que ele amou Berlin, que ele iria voltar a Berlin, que gostou da Holanda, que não viu nada de interessante em Copenhagen... Ah! Eu fico cansado só de lembrar disso.

Então que veio a idéia da tática infalível do chIpod no ouvido. Fui vagarosamente catando o fone de ouvido do chIpod, selecionei uma música bem barulhenta, botei no máximo e coloquei o fone quando ele deu uma brecha no monólogo. Nem assim o cara parou de falar. Para piorar o chIpod morreu. Acabou a droga da bateria. Eu estava condenado a ouvir toda a conversa chata do cara durante a viagem que duraria cerca de seis horas.

Ele falou, falou, falou até que se cansou. Eu já nem dava ouvidos. Foi uma atitude um tanto rude, mas eu já tava de saco cheio daquela conversinha fiada. Após um bom tempo de viagem chegamos a Ostrava.

- Ainda falta muito? – ele me perguntou.

- Por volta de cinco ou seis horas. Quando chegarmos a Konin faltará bem pouco, então fica ligado nas placas. – respondi.

Ele então deve ter percebido que eu não estava com vontade alguma de ouvir e se calou. Seguimos então em silêncio, ou melhor, apenas com o barulho do trem, aproveitei para tirar um cochilo. A viagem era muito longa. Em alguma cidadela após Ostrava o trem encheu. Um monte de gente entrou e se amontoou dentro do vagão. Três garotas abriram a porta da cabine e se sentaram, conversavam em tcheco. O silêncio que eu tanto gostei para cochilar tinha desaparecido.

Uma das meninas então me cumprimentou. Não lembro o nome dela. Era bonitinha e tinha um jeitinho bem meigo. Perguntou de onde eu era e se estava gostando da Rep. Tcheca. Lembro que ela falou que fazia faculdade de história. E que tinha muita vontade de conhecer a fundo a história do Brasil. Conversamos sobre outras coisas mais até que o outro brasileiro se intrometeu. Ninguém entendeu nada. Eram três meninas e elas olharam uma pras outras, comentaram alguma coisa em tcheco e começaram a rir.

- Você é francês? – a que conversava comigo perguntou ao infeliz.

- Não, também sou brasileiro. Todos falam que ao falar inglês eu tenho sotaque de francês.

Haja paciência... O cara cortou o meu papo para falar besteira. Que Mané chato viu. A menina tentava falar comigo e ele cortava o tempo todo. Eu pensei em dar um chute no saco daquele cara para ver se ele calava-se. Só ficou no pensamento. Maldito. Mas isso ainda não foi tudo, como se não bastasse, ele parou para contar para as garotas a mesma história que contou para mim. Anteriormente, só que dessa vez em inglês. Eu pedi a morte. A mesma história de novo? Que saco! Eu amei Berlin, porque Berlin é fantástica, Berlin é perfeita, porque eu vi uma caquinha de cachorro no muro de Berlin.... Putz!

Eu já não agüentava mais aquilo, nem as meninas. Elas meio que deram as costas para o cara, mas mesmo assim ele não parava de falar. Elas ainda deram sorte de saírem antes de Konin, mas eu teria que ficar ali porque agora as outras cabines estavam todas cheias.

Ele perguntou como chegar ao centro da cidade, pois o albergue o qual ficaria se encontrava lá, e como poderia comprar passagens para o transporte público. Expliquei a ele direitinho, foi o tempo suficiente para chegar a Praga e me livrar da praga. Hehe.

Era o fim de uma viagem sem quebra de trem, sem frio (a não ser na estação), sem “russo”, mas com um chato no pé do ouvido que não parava de falar. Estava na hora de seguir para casa dos Hakkinen. Não teria problema com horários já que ainda eram 18h.

BR Na Europa!

sábado, 23 de outubro de 2010

Momentach Łódź

Acordei por volta das dez da manhã fui me arrumar. Havia combinado com a Priceless Girl que sairíamos e ela me mostraria um pouco da cidade. Sinceramente eu não estava com muita vontade de ver o “mundo cinza” de Łódź. A primeira impressão não tinha sido das melhores, mas se já estava combinado, não tinha porque não ir. O que não podia acontecer era eu ficar no albergue engarrafando peidos esperando a hora de voltar para casa.

Fazia menos frio naquela manhã, por volta de -14 graus. Nossa, tava até um calorzinho. Haha. Tomei um banho para tirar o cheiro de cama do corpo, vesti-me e esperei que ela chegasse. Enquanto esperava, aproveitei para mandar uma mensagem para a família já que a internet no albergue era grátis.

Priceless girl demorou um pouco a aparecer. Atrasou-se quinze minutos do horário combinado no dia anterior. Pegamos um desses trens urbanos e fomos ao “centro” da cidade onde ela me mostraria algumas coisas.

Visitamos lugares, como Manufaktura (uma velha fábrica que virou shopping), Plac Wolności, Ulica Piotrkowska (Ulica = Rua) e outras coisas mais.

- Por que você não tira nenhuma foto? – perguntou Priceless Girl.

Como vocês já sabem o esperto aqui havia esquecido a máquina fotográfica. Tive que explicar que havia caducado e deixado a máquina no Brasil e que desde então tentava memorizar paisagens para que tivesse lembranças do local no futuro. Realmente uma pena, mas fazer o quê.

Paramos para almoçar por volta das 14h. Eu estava com uma fome que eu comeria uma égua inteira na brasa. Voltamos a tal Manufaktura e comemos uma pizza. Tomamos uma cerveja enquanto conversávamos. O telefone dela tocou. Em meio à conversa ela soltou:

- Não, não. Estou aqui almoçando com um amigo.

Amigo? Não minha cara, você tem que me rotular direito.

- Pensei que não era seu amigo e sim seu namorado. – soltei logo a bomba.

- Namorado? Mas você nem me pediu em namoro...

- E precisa? Haha.

Foi assim que o namoro começou. Eu não sou 100% romântico, nem um Dom Juan de Marco. Na verdade eu larguei a bomba e esperei que ela explodisse no colo dela para ver a reação. Já estava gostando da loirinha, ficaria mais um bom tempo na Europa, por que não curtir um relacionamento com alguém legal? Tá, eu sou rápido no gatilho, mas senti uma boa vibração vinda daquela garota. Ela tinha algo que me atraía e me deixava mole. Nunca tinha sentido aquilo não.

- A partir de agora a senhora me apresente como seu namorado.

E foi isso que aconteceu no meu primeiro dia em Łódź. Sinceramente não gostei da cidade. Era muito “underground”, muito triste e medonha. A Priceless Girl discordou comigo é claro. Ela tinha orgulho da cidade onde vivia. Talvez fosse a neve que cobria tudo de branco, o frio que não deixava curtir direito os monumentos, não sei. Apesar de tudo estava curtindo estar ao lado dela.

Ela convidou-me a jantar em sua casa novamente. Disse que o rango seria um pouco melhor ao da noite anterior. Afinal teríamos que celebrar o nosso primeiro dia de namoro. Haha. Seguimos para casa dela a pé. Não era tão longe, cerca de vinte minutos de caminhada. Mas naquele frio tudo parecia longe. Passamos por ruas estranhas e sinistras. Caso fosse Salvador eu jamais andaria por locais daquele jeito. Muito tenso.

Chegamos a casa dela e jantamos uma comida polaca que não fazia idéia o que era; certamente algo com batata. Um vinho, um papinho, uma noite de amor. Estava tudo muito bom em Łódź, ainda bem que comprei passagens que ficavam em aberto. Eu voltaria para Praga naquele domingo, mas resolvi ficar mais uns dois dias. Ainda estava cansado da primeira viagem e começava a gostar da “garota da internet” mais e mais. Aproveitamos e tiramos algumas fotos para marcar o momento.

Priceless Girl e Belino =)

Os dias se passaram e eu já estava ficando sem roupas. Precisava voltar a Praga para ao menos pegar o resto de minha bagagem. Eu estava tendo um bom momento na Polônia, mas ficar lá com pouca roupa estava se tornando difícil. Prometi a Priceless Girl que voltaria o mais breve possível. A minha ida a Rep. Tcheca tinha também outro propósito. Enquanto estava na Polônia li que a União Européia estava dando apoio financeiro para quem pretendia abrir empresa. Talvez essa fosse uma saída. Assim reabriram-se as esperanças de um dia morar em Praga. Seria uma boa averiguar.

A despedida foi um pouco triste, mas eu voltaria e isso era fato. Talvez em um mês ou algumas semanas. A carinha de choro da loirinha não me deteve. Eu tinha mesmo que ir ou teria que comprar uma porrada de roupas lá na Polônia. Na terça-feira pela manhã, ela me levou a estação e esperou que eu pegasse o trem. Faria o mesmo percurso da primeira viagem. Um beijo de despedida, entrei no trem...o último aceno e a volta para Praga começava.

BR Na Europa!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Łódź - Dia, ops, Noite 1


O primeiro dia, ou melhor, noite, na cidade de Łódź foi legal. Priceless Girl levou-me para  casa dela direto da estação de trem para jantar, e só depois ela me levaria ao albergue o qual eu ficaria.

Eu estava um bagaço. Fedia a cerveja, estava cheio de olheiras, com frio, cansado e com muito, mas muito sono mesmo. Acho que se tivesse ficado mais uma hora dentro do trem, ela teria que me carregar nas costas para chegar ao táxi. Uma viagem de nove horas de duração se estender a dezoito é muita sacanagem. Quase um dia inteiro passando frio naqueles trens foi de mais para mim. Finalmente eu teria uma boa refeição e tomaria um belo banho.

Pegamos o táxi e fomos para casa dela. Eu não faço idéia qual a primeira impressão que ela teve de mim, porque só o fedor poderia acabar com qualquer chance que eu teria. Ela era muito mais bonita pessoalmente do que em fotos e muito simpática também. Fomos conversando no táxi e eu contava porque demorei tanto a chegar.

- Eu não acredito! Tudo isso? – perguntou ela.

Às vezes nem eu mesmo acredito no que aconteceu comigo desde que cheguei a Europa. Muita zica cara. Claro que coisas boas também aconteceram, mas é muito mais fácil contar algum fato estranho de forma interessante do que fatos legais.

Enquanto contava eu dava uma olhadinha na cidade. Como era cinza e sem cor... Coberta de neve e gelo para todo lado. Chegava ser depressivo. Aproximamo-nos da casa dela. Estávamos numa espécie de condomínio próximo ao parque da cidade. Prédios bem antigos. Subimos a escadaria e ela abriu a porta.

- Não repare a bagunça. Como você sabe, mudei-me recentemente e muita coisa ainda precisa ser revista.

Era um apartamento pequeno, mas bem aconchegante. Senti aquele calor saindo de dentro do local... Ahh, era tudo que eu precisava. Entrei pelo corredor, ela mostrou-me a cozinha, o banheiro e a sala. Era isso, agora entendi porque não poderia ficar lá. Teria de dividir a cama, o que não seria uma má idéia, mas seria estranho algo assim logo de cara.

Pedi para tomar um banho antes de jantar e ela me concedeu a honra de usar o banheiro ainda não totalmente reformado. Entrei no banheiro e larguei minhas coisas lá. Ela começava a cozinhar o que seria um macarrão aí. Lembrei-me de uma coisa. Voltei e falei com ela:

- Desculpa, mas esqueci de te pedir uma coisa.

- Precisa de algo, tipo sabão?

- Não, não. Eu sei que essas coisas não se pede mas eu poderia te dar um beijo. Isso me deixaria mais a vontade.

Ela olhou para mim cara com olhos esbugalhados e essa era a minha deixa. Parti pro abraço e fiz meu gol mesmo estando fedorento e um caco. Não teve escapatória. Fui tomar meu banho feliz enquanto ela ainda se recuperava do “Impacto Profundo” do “Beijo do Belino”. Olha, eu não sou malemolente como você pensa, mas eu esperei muito para beijá-la, e quando a vi pela primeira vez ao vivo a emoção foi forte, por isso o beijo. Demorei uns trinta minutos para tirar aquele fedor de cerveja do corpo.

Tivemos uma ótima noite, mas eu precisava ir para o albergue dormir. Caso a mãe dela soubesse que eu estava lá a coisa seria um pouco desagradável.

Pegamos outro táxi e ela me levou para um pequeno lugar que seria perto da casa de sua avó. Lá eu passaria a noite e no dia seguinte a encontraria. Fiz o check-in me joguei na cama e apaguei, eram três da manhã e após  vinho e um ótimo momento com a Priceless Girl, eu precisava colocar minha cabeça no travesseiro. Começava assim meu período na cidade de Łódź.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Pior Viagem da Minha Vida - Final

O último trecho da viagem parecia que seria tranqüilo. Sem neve e apenas com um frio de rachar, rezei para que o trem não quebrasse novamente. Enquanto me acomodava na cabine do trem, uma mulher se aproximou da porta e entrou. Não era muito bela, acho que nem dava pro gasto. Ela se desagasalhou toda e voltou para janela onde parecia falar com alguém em inglês.

Fiquei de longe observando, mas não dei muita corda. Peguei o velho chIpod com a bateria quase esgotada e coloquei um som legal para relaxar. Era dia e talvez não sofresse outro ataque de um doido tentando roubar meus pertences. Eu não sabia nem onde teria que descer do trem, quer dizer, eu tinha o local anotado, mas do jeito que a coisa estava indo, era capaz das placas de indicação estarem cobertas de gelo e eu passar da estação que deveria sair do trem.

Vi a mulher acenar para o rapaz do lado de fora do trem, um polaco certamente. Ela entrou novamente na cabine e fechou a porta. Ainda bem que fez isso, pois como a janela de onde ela estava encontrava-se entreaberta, o vento frio invadia a cabine e não tinha aquecedor que desse jeito. O trem começou a se mover lentamente, era o começo do último trecho da viagem.

A mulher abriu um livro, vi pela capa que era italiano e pensei comigo: “uma vez me falaram que as italianas eram as mais belas, que decepção.” E realmente, a molequinha era feia tadinha. Cara de mulher doida, daquelas que na cama pode te depilar com cera quente, e depois jogar mais cera pra te grudar na cama. Não puxei papo. Apenas curti a paisagem branca.

Após cerca de uma hora de viagem, paramos na terceira estação para pegar mais gente, o problema é que o trem não andou novamente. Adivinha o motivo? Isso mesmo, cabos de energia congelados. Era muita falta de sorte. Eu já estava cansado daquilo tudo, mas não tinha como voltar atrás. Já estava a mais da metade do caminho e voltar a Praga dali poderia significar mais dez horas dentro de uma cabine, ou até mesmo outro encontro com “o russo”. O jeito era seguir em frente.

Enquanto esperava a suposta italiana parou de ler e olhou para minha cara.

- Com licença, você tem idéia do que aconteceu?

- Sim, os cabos estão congelados, por isso os aquecedores pararam. Estamos sem energia.

- Ah, ok. Tem idéia de quanto vai demorar?

- Não, eu não falo polonês, mas a última vez que aconteceu comigo durou três horas.

- Hmm. Espero que não demore tanto. De onde você é? – ela começou a puxar assunto.

- Brasil.

- Mora aqui na Polônia?

- Não, só estou de passagem. Vim visitar um amigo.

- Ah! Eu também, aquele rapaz que eu acenei é meu amigo em Katowice. Vou visitar outro amigo em Lodz e em Varsovia. Depois vou a Noruega visitar outro amigo, sigo a Paris para visitar mais um e volto para casa na Itália.

É ela era italiana, tinha a confirmação. Mas que tanto amigo é esse? Se fosse o que eu estava pensando era uma quenga. Haha. Também não dei bola. Já não era bonita e ainda com tanto amigo, desconfiei. Recoloquei o chIpod nos ouvidos enquanto o frio se alastrava pela cabine. A italiana entendeu que eu não estava a fim de papo, mas de vez em quando olhava para mim com um sorriso na cara. “Não, eu não vou te pegar não minha filha, você é bem fraquinha!” pensei comigo.

Aquilo era um purgatório. Estava certamente pagando os meus pecados com tanta espera e tantas quebras para chegar ao meu destino. Dessa vez durou um pouco menos, uma hora e meia. Aproveitei para tirar um cochilo. Algumas vezes o aquecedor dava uma ligadinha e aquecia um pouco a cabine, mas logo parava. Era só para sacanear o peão aqui. Mas o pouco que aquecia alegrava um pouco, estava muito, muito frio, e minha pele se ressecava de maneira rápida.

Quando finalmente partimos acho que até a italiana rezou para que o trem não parasse novamente. E graças a Deus não parou. Aquilo simplesmente era insuportável. Um frio da zorra, cansaço, fome, sede, fedido a cerveja... tudo se misturava e tornava meu dia péssimo. Você pode estar pensando o porquê não dar um amasso na italiana para me esquentar um pouco... mas cara, era feia.

O trem se aproximava do destino. A italiana “bonitinha” iria soltar uma parada antes de mim. Eu iria para Kaliska, uma estação próxima a casa da Priceless Girl que a essa altura já me esperava. O meu coração palpitou um pouco, pois esse negócio de encontrar gente que você só viu na internet é sempre complicado. A italiana desceu em Widzew, uma estação antes. O trem continuava a seguindo até que vi o letreiro escrito: Kaliska.

Sai do trem naquele frio de matar e vi uma loirinha, tão agasalhada que estava irreconhecível, me esperando. E após longas dezoito horas de viagem aproximei-me com minha cara de pau e disse:

- Hey! Como vai?

BR Na Europa!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Pior Viagem da Minha Vida - Parte 3

Tinha cerca de uma hora e meia antes do próximo trem para Łódź. Eu estava tremendo de frio e como eu disse precisava de um café ou algo quente com urgência, mas antes... precisava tirar água do joelho. Como eu havia bebido muita cerveja e só fui uma vez no banheiro do trem, a coisa estava apertada.

De longe vi a indicação. Ficava dentro de um estabelecimento. Vê se pode, banheiro público dentro de uma lojinha. Parei rapidinho no caixa eletrônico e tirei cem Złotys (cerca de 68 reais) porque eu não tinha dinheiro polaco comigo, só tcheco e brasileiro. Corri com minha mochilinha em direção ao banheiro no desespero. Quando cheguei à porta, fui barrado.

- Nie, nie, nie! Dwa złoty! – falou um rapaz que estava na porta.

Sei lá que zorra era “divá e zuote”! Não sabia nada em polaco e o cara ainda falava embolado. Percebi uma velhinha sentada na porta do banheiro. Parecia ser a dona. Debaixo da cadeira onde ela estava havia alguns produtos de limpeza, então entendi o recado. Eu precisava pagar para usar aquela bosta. Não tava nem aí, se fosse vinte contos eu pagaria, tava me mijando todo. Peguei a nota de cem e entreguei a velhinha, entrei correndo no banheiro na tensão, deixei para pegar o troco depois. Abaixei as calças e não achei nada! Eu nunca tinha visto meu bilau tão pequeno, o frio deixou-o miúdinho. Senti-me meio homem, mas tão meio homem, que se ele diminuísse um pouquinho mais eu falaria fino e me chamaria Belina. Que situação!

Fiz minhas necessidades, botei uma cueca a mais e cai fora do banheiro. Estava limpo o ambiente, infinitamente mais limpo que a estação de trem que fedia devido aos pombos que lá ficavam tentando se proteger do frio. Sai de lá aliviado. Ao passar pela porta eu fui pegar meu troco na mão da senhora que estava sentada e o rapaz que estava com ela começou a resmungar de novo. Pegou a nota de cem que eu tinha dado e me devolveu. Ué?! Algo de errado com minha nota que acabei de tirar no caixa eletrônico?  Sim, eu tinha dado uma nota de cem coroas tchecas. Haha. Era o costume.

Resolvi a situação com o carinha e peguei meu troco. O frio estava insuportável dentro da estação. Vi uma lojinha e comprei tocas e outro par de luvas para colocar por cima das que eu usava porque eu já não agüentava mais. Paguei e segui para a cafeteria. Ao entrar... Ahhh que calorzinho gostoso... aquilo era o céu dentro do inferno que era a estação de Katowice. Pedi um cappuccino e um bolo de chocolate. Precisava repor as energias após o dilema do “russo”.

Enquanto comia na apertada, porém calorosa cafeteria, um grupo se aproximou falando em inglês:

- Ah cara, onde diabos fomos nos meter? Isso aqui é o inferno! Culpa sua!

Eu sabia o que eles estavam passando. Perguntava-me a mesma coisa o tempo todo. Como aquela cidade tão assombrosa poderia fazer parte de um país europeu? E o que é que eu fazia ali? Vai saber. Nesse meio tempo um polaco se aproximou. Ele queria sentar na mesma mesa que eu. A cafeteria era bem pequena e tinha poucas mesas, três exatamente, e eu ocupava uma com duas cadeiras a qual uma estava vazia. Liberei o cara sentar porque não sou sacana.

- De onde você é? – perguntou em inglês.

- Brasil.

- Hmm, que ótimo. Lugar quente sempre, né?

- Depende da região.

- Sempre tive vontade e conhecer o Brasil.

Porra! O cara falou isso piscando o olho que parecia brilhar. Mais um gay nessa viagem! Ah não! Chega disso!

- Boa sorte, você vai gostar.

Virei a xícara de café e cai fora dali. Tanta viadagem meu Deus... Já estava demasiado isso. Segui para uns banquinhos que ficavam em frente ao guichê de informação. Preferia passar frio a ter que aturar aquele baitola. Eu ainda tinha meia hora até o trem aparecer. Olhei o banquinho e sentei. Comecei a congelar em menos de dois minutos. Ali eu não agüentaria ficar parado. Já havia tido a experiência em Praga, mas menos vinte e três graus marcados no termômetro era demais. Vi uma plaqueta de linhas de trem na Polônia e fui observar. Talvez lá estivesse o nome das cidades que iria passar antes de chegar ao meu destino final.

Fiquei lá olhando a plaqueta e lendo um monte de nome de cidade estranha. Eu só conhecia de nome Varsóvia e Krakóvia. O resto nunca tinha ouvido falar, nem mesmo para onde eu estava indo. Enquanto olhava duas garotas se aproximaram. Seria meu dia de sorte e teria duas lindinhas para me aquecer? Na verdade uma só, porque a outra era feia que doía. Aproximaram-se e uma delas soltou logo o verbo em inglês:

- Bom dia, senhor. Vejo que o senhor é estrangeiro. Estamos aqui para falar da nossa igreja e do evento que estamos organizando para este final de semana. Gostaríamos muito de sua presença. O senhor freqüenta a igreja?...

Ela não parava de falar, mas na moral, era a versão do povo da Universal do Reino de Deus polaca. Já não bastava no Brasil, agora aqui também. Fui simpático com elas porque uma delas era bonitinha. No fim ganhei dois livros e um beijinho na bochecha. Ao menos valeu a paciência. Pelo ou menos não era o gay da cafeteria.

A hora do trem partir se aproximava e eu segui para plataforma de embarque. Identifiquei o trem pela plaquinha na lateral e entrei no vagão, catei uma cabine vazia e acomodei-me. No trem fazia um calorzinho bem gostoso devido aos aquecedores, eu precisava disso. Tirei aquele monte de casaco e fiquei mais a vontade. Sentei, liguei o chIpod e esperei o trem partir.

Continua...

BR Na Europa!

P.S.: Eu só gostaria de lembrar que não tenho nada contra russos, o cara no trem poderia ser de qualquer nacionalidade, até mesmo brasileiro, portanto querido amigos russos, não se chateiem com a história. 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Pior Viagem da Minha Vida - Parte 2

Você deve estar achando que sou muito azarado. Nem tanto, após umas três horas parado no mesmo lugar o trem andou. Eu já estava todo encasacado, com toca, luvas duas meias e um meião de futebol. O frio estava de lascar, mas como o trem andou novamente, os aquecedores voltaram a funcionar. Eram doze e meia da noite quando partimos de Konin. O cheiro de cerveja enojava a minha cabine, mas fazer o que? Ao menos agora estava um pouco mais aquecido.

A viagem seguia e o frio também. De repente vejo na porta da cabine um rapaz alto envolto a escuridão olhando para dentro. Não era o velho que checava o bilhete, não era ninguém conhecido, certamente era o famoso “russo” o qual tanto me mandaram tomar cuidado.

Eu tremi, mas não podia mostrar medo. Como eu, ele estava encapuzado e eu não podia ver seu rosto, apenas o queixo branco. Eu estava encolhido no canto tentando me proteger do frio e agora com medo. Ele colocou a mão na maçaneta da porta e fez menção de abri-la. Eu levantei dando um pulo da cadeira segurando uma das garrafas de cerveja. Tirei o capuz e fiz sinal de negativo. De onde surgiu tamanha coragem? O cara tinha o dobro do meu tamanho e parecia ser mais forte. Mas eu fui valente. Olhei para ele, liguei a luz e continuei fazendo sinal de negativo. Eu continuava tremendo, mas coloquei um sorriso macabro 
em meu rosto. O homem, ainda encapuzado, olhou para minha cara e correu para o lado esquerdo.

Uff! Que alívio. Eu estava prestes a me borrar de medo ali dentro. Tranquei a cabine e fechei as cortinas. Não queria passar por isso novamente, era demais para o meu coraçãozinho. Sentei-me e respirei um pouco pensando: “Russo frouxo, medo do negão brutal aqui. Haha.” Mas no fundo, no fundo eu ainda tremia. Não sei se tremia de frio ou de medo, sei apenas que tremia. Após me acalmar um pouco senti os aquecedores pararei de funcionar.

O trem ia parando vagarosamente. Ficamos sem energia de novo, dessa vez no meio de lugar nenhum em plena madrugada. Que arrependimento... Será que cumprir minha palavra valia tanto a pena assim? Será que não dava para voltar a Praga dali de onde estava? Por que eu precisava sofrer tanto? Não era justo. Ainda tinha mais duas cervejas, mas já estava enjoado de tanto beber sozinho naquele frio. Estava tão frio que a cerveja não esquentava.

Meia hora foi o tempo parado nesse lugar. Estava envolto a floresta. Eu olhava pela janela e só via neve cair. O mundo era branco e gelado. Onde diabos eu estava? Nem mesmo da Rep. Tcheca eu tinha saído. Lamentável. O trem voltou a seguir viagem após esse período. Eu havia guardado dois sanduiches do Bob’s que havia comprado para momentos críticos. Esse era um.

Não dava para agüentar. A viagem duraria inicialmente nove horas ao todo. Já se passavam oito horas e eu ainda estava na Rep. Tcheca. Era o fim da picada. Engoli os sanduiches a seco, pois não queria beber mais cerveja e rezei para ao menos chegar logo em Ostrava. O trem voltou a andar. Parecia que a reza tinha dado certo. O “russo” também não tinha aparecido. O trem seguia rapidamente para o seu destino. Finalmente.

O trem chegou a Ostrava por volta das cinco e meia da manhã. O céu ainda estava um breu que era de dar medo. Ao menos tinha parado de nevar. Era a trégua para que a viagem seguisse bem. O homem que checava os bilhetes tentou entrar na minha cabine fedida. Eu abri a porta e ele pediu para que eu mostrasse o bilhete. Mostrei os dois que possuía para a viagem de ida. O para Katowice e o seguinte para Łódź. O homem começou a falar um monte de coisa em sabe-se lá que idioma. Eu não entendia meleca de nada e o cara começou a ficar nervoso comigo.

Eu não sou cabeçudo. Peguei o bilhete e pedi para ele mostrar para onde eu deveria ir apontando para o nome Katowice e para as duas direções do trem balançando os ombros. O infeliz apontou para a esquerda. Se ele tivesse feito isso seria mais rápido. Cara estúpido e ainda falava cuspindo. Daí caiu a ficha. “Opa, para a esquerda foi para onde o ‘russo’ correu, tô frito.” Era muito azar. Quando tudo parecia estar indo bem me acontece isso. Ahh, vai tomar banho!

Peguei minhas coisas e segui para o vagão indicado pelo velho. Encontrei uma cabine livre, sem ninguém. Não tinha o cheiro nojento de cerveja da anterior. Já estava de bom tamanho. Não tinha mais comida comigo e não podia descer do trem para comprar, pois ele poderia partir a qualquer instante e eu ficaria lá com cara de bunda. O jeito era esperar novamente. Foram apenas uma hora e meia de espera. Dava para eu ir, visitar a cidade e voltar durante esse tempo. Mas eu precisava ficar lá acordado como uma coruja, com fome, com sono e com medo do “russo” voltar.

O trem voltou a andar após esse tempo e finalmente saímos de Ostrava. Eu rezava para que o maldito trem não quebrasse novamente. A próxima parada seria somente em Katowice, isso se nada corresse errado. Eu sabia que perderia a conexão, aliás, o trem partiria de Katowice às seis da manhã já eram cinco e meia. Nada de errado ocorreu nesse trecho. Já havia cruzado a fronteira com a Polônia e nada de ruim estava acontecendo. Havia parado de nevar mas o frio estava cada vez pior. O trem aproximava-se de Katowice e eu pude ver algumas cidadelas ao sul da Polônia.

Era de dar medo. Se você assistiu ao filme “O Senhor dos Anéis” eu farei uma breve comparação, as cidadezinhas pareciam com “Mordor”. Cinza, triste e depressiva. Parecia que o país tinha acabado de sair da Segunda Guerra Mundial. Senti até pena do povo, na boa. Como podem viver assim? Nem parecia Europa. Eu fiquei imaginando o meu destino final. Se fosse daquele jeito eu não sabia se suportaria. O trem começava a cortar a cidade de Katowice e a coisa era ainda pior. A cidade era feia e tenebrosa. Ao ver pela janela do trem logo pensei que gostaria de sair de lá o mais rápido possível. Onde diabos tinha me metido?

Quando o trem parou na estação, sai com um sorriso na orelha de tão feliz de ter percorrido mais da metade do caminho. Priceless Girl já estava ciente de que eu não chegaria no horário dito antes. Eu havia enviado um sms pelo celular que a Sra. Hakkinen havia me dado caso me perdesse (excelente pessoa) explicando a situação. Sai da plataforma e segui para o saguão para poder ver onde deveria pegar o próximo trem.

A estação era aterrorizante. Estava caindo aos pedaços. Tão diferente da de Praga onde tudo era organizado e limpo. A minha primeira impressão da Polônia era a pior possível. Aquilo para mim era o purgatório. Cheguei ao saguão e olhei para ver a tabela de horários. Tudo era feito de forma antiga e eu não conseguia entender meleca de nada da tabela. Um monte de nome de cidade espalhado com um monte de números que deveriam ser horas. Era tudo muito ilegível. Resolvi então seguir para o balcão de informação.

A fila de informações estava um pouco grande mais andava rápido. O frio na estação estava de lascar. Não tinha aquecedor. Eu já tinha colocado outra meia e mesmo assim não era o suficiente. A pele parecia que rasgaria. Precisava entrar numa cafeteria e tomar algo para aquecer o corpo ou iria cair de frio ali mesmo, mas primeiro precisava obter informações, pois se o próximo trem já estivesse na plataforma eu o perderia.
Chegava a minha vez para pedir informações e eu já estava preparado para falar inglês. Uma senhora estava no guichê e perguntei em inglês:

- Por favor, eu gostaria de saber a plataforma para a cidade de Lodz.

A mulher olhava para mim com cara de bunda, sem entender nada. Talvez se eu tivesse pronunciado o nome da cidade corretamente ela sacasse o que eu estava perguntando, mas “Lodz” nada significava para ela. Perguntei novamente e nada. Repeti diversas vezes o nome da cidade.

- Lodz! Lodz!

Nada adiantava, falei: “Lodz, piuí!” tentando que ela entendesse o barulho do trem e nada adiantava. A mulher se irritou no guichê e a fila começava a crescer. Havia um senhor que já estava soltando fumaça pelo nariz porque a maldita fila não andava. Mas eu não conseguia me comunicar. Então fiz o mesmo que anteriormente. Peguei a droga da passagem e mostrei para a infeliz. Ela olhou e disse:

- Ahhh! Łódź! Łódź!

- Mas é claro que é trem sua doida. – respondi aleatoriamente.

Como eu disse em um post anterior Łódź, lê-se Údi. E ao falar o nome da cidade corretamente a mulher parecia que fazia o som do “piuí” do trem. Haha. No final eu que era o cabeçudo.

A mulher começou a falar um monte de coisa em polonês. Que idioma estranho. Conseguia soar pior do que tcheco. Eu não entendia nada, a mulher não entendia nada, o velho atrás de mim só faltava me bater e eu já estava irritado com a situação. Pedi pra infeliz mostrar o monitor porque eu já estava de saco cheio.

Finalmente consegui o que queria. Estava tudo no monitor do computador. Plataforma, horário e tudo mais. Agradeci e saí daquele maldito guichê. Era hora de tomar um cafezinho para esquentar o peito, fazia nada menos que -23º negativos...

Continua...
BR Na Europa!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Pior Viagem da Minha Vida - Parte 1

Eu tinha que começar os preparativos da viagem. Primeiro avisei aos amigos alemães que iria a Polônia naquele fim de semana e provavelmente voltaria no domingo a noite. Tive uma péssima notícia. Eles iriam para Ostrava (uma cidade tcheca ao leste) a trabalho e de lá iriam para a Alemanha sem data de volta. Resumindo, eu não poderia ficar no apartamento. Meleca!

Sem problemas, liguei para Chun Li e perguntei se quando voltasse poderia ficar lá. Resposta positiva, era hora da “mudança”. Despedi-me dos amigos alemães e recebi um conselho: Cuidado com russos no trem.
Que raios de conselho foi esse? Não entendi mas segui em frente. Arrumei minha tralha e levei para a casa dos Hakkinen. Fui muito bem recebido pela família da Mika, avisei que iria a Polônia e voltaria no domingo ou até mesmo um pouco depois. Instalei o Xbox (é, eu precisei comprar um, não consigo ficar sem meu vício hehe) e joguei um pouco com o Jerry antes de viajar. O trem partiria às nove da noite tinha tempo de sobra. Chun Li havia dito que me levaria à estação de trem a noite então fiquei tranqüilo.

Ao anoitecer despedi-me da Sra. Hakinnen e recebi outro conselho: Evite dormir no trem e cuidado com os russos.

Pow! De novo essa história de russo? O que os coitados tinham feito? Eu imaginei que seria devido a história do pós-guerra e coisas do tipo. Talvez eles ainda guardassem rancor, mas porque até os alemães deram esse conselho? Isso não entrava em minha cabeça.

Peguei minha mochila e junto com a Chun Li partimos ao centro da cidade para a estação de trem. Os Hakkinen moravam um pouco longe, próximo a Flora e levaria cerca de vinte minutos até o centro. Ao sair de casa começou a nevar. Merda de neve, esse treco só é bonito em cinema.

O problema é que não foi uma nevezinha marota? Foi uma nevasca tensa. As ruas estavam totalmente cobertas e engarrafadas, os trens urbanos não estavam funcionando e a única alternativa era arrumar um ônibus e seguir para a primeira estação de metro, caso contrário perderia meu trem.

Graças a Deus, um ônibus passou no momento em que precisávamos. Eu já estava com medo de perder o comboio e a viagem melar. Seguimos a estação de metro e de lá Chun Li e eu conseguimos chegar a estação principal com rapidez. Chun Li já sabia que direção tomar e a plataforma a qual deveríamos ir e seguimos correndo para lá.

Ao chegar na plataforma vimos o trem esperando para zarpar. Você no Brasil deve estar pensando naqueles trens luxuosos que viu na TV. Haha, eu também tive essa decepção. Os trens tchecos e polacos são a coisa mais TENSA do planeta. Olha só a foto.

Modelo de trem polaco e tcheco.



Chun Li perguntou ao senhor que lá trabalhava se aquele era o trem certo. Ele era polaco e a coisa não andou muito bem, ela não conseguiu informação alguma. As línguas apesar de serem da mesma família não são lá tão parecidas. Por sorte havia um senhor que estava indo para uma cidade próxima e informou que aquele era o trem correto. Chun Li aproveitou e perguntou se eu poderia ficar no mesmo cômodo dele, era mais seguro do que viajar só naquele trem. Ele respondeu positivamente.

Despedi-me da Chun Li com um abraço e entrei no trem junto com o senhor. Ele só falava alemão e tcheco, não tinha muito o que conversar. Em menos de dois minutos o trem partia para o seu destino, Katowice.
Você deve estar pensando que uma viagem de trem seria tranqüila. Mas convenhamos, se tivesse sido tranqüila eu não estaria escrevendo aqui. Na verdade foi a pior viagem que eu fiz em minha vida.

O trem partia em direção a borda tcheca, e se dividiria em Ostrava. Eu teria que estar no vagão certo na hora da divisão, o pior seria perguntar se estava. O senhor que dividia a cabine comigo disse que iria sair do trem em uma estação não muito longe, e que eu deveria contar com a sorte. Foi o pouco que entendi em alemão. Ele também explicou que era cozinheiro do quartel militar, o que me deixou um pouco tranqüilo, ao menos ele sabia manejar uma faca haha, e pediu para que quando ele saísse eu não dormisse por causa dos russos.

Eu já estava nervoso com essa história de russos em trens, não tinha nada de valor comigo além de dinheiro, mas a coisa já estava ficando chata. Não me expressei quanto a isso mas comecei a ficar um pouco receoso. O trem ia de maneira relativamente rápida e fazia um barulho dos diabos. Após umas três paradas senti que a viagem seria calma e relaxei mais.

Nevava muito quando chegamos a uma pequena cidade chamada Konin. O trem fez mais uma parada, após pegar alguns passageiros ele andou um pouco e puff. Parou novamente. Motivo? Os cabos de energia estavam congelados e não havia contato entre ele e a haste do trem. O homem que checava os tickets veio nos informar do problema e disse que levaria um pouco de tempo. Um pouco de tempo? Se demorasse mais do que uma hora eu certamente perderia a minha conexão em Katowice. Adivinha o que aconteceu? Demorou um hora e meia até que obtivéssemos mais informações.

Nesse período eu já havia perdido a esperança. Depois que o cozinheiro que sentava na mesma cabine tentou explicar a situação em alemão e eu entendi, chutei o balde e perguntei se ele queria tomar uma cerveja. Fomos até o último vagão e compramos cinco garrafas cada um.

Voltamos a cabine e tentamos nos entender conversando em alemão. Quem me conhece sabe que eu não falo droga nenhuma em alemão, mas eu tentei... tentei... e foi até divertido. Na segunda garrafa o senhor que checa os bilhetes voltou a nossa cabine e começou a conversar com o cozinheiro que lá estava bebendo comigo.

Simplesmente havia um outro trem para o cozinheiro o qual ele poderia seguir viagem numa boa. Cara sortudo! Eu fiquei lá com minha cara de bunda mole dentro do vagão tendo que esperar alguma solução para continuar a viagem enquanto ele seguia para o seu destino. O cozinheiro se despediu, deixou as três cervejas dele para mim e se mandou.

Eu não tinha muito o que fazer, era esperar ou esperar. O frio tomava conta da cabine, pois devido a falta de energia no trem, os aquecedores estavam desligados. Era minha noite de sorte. Iria morrer bêbado e congelado dentro de um trem que trilhava para o inferno. Resolvi dar uma caminhada pelo trem e comprar um chocolate. No caminho vi um pessoal falando em um idioma estranho. Seria o tal russo? Mas tive outra surpresa. Vi dois carinhas conversando em português. Ahh, finalmente um idioma decente para se conversar. Aproximei-me e puxei papo. Eles estavam indo para Krakow na Polônia e não sabiam o que acontecia, expliquei a situação. Eles estavam nos vagões para dormir, eu tinha sorte pois já tinha comprado bilhetes normais e tinha recebido conselhos para não ir nesse tipo de vagão, pois seria perigoso. Mas não demorei muito com eles, os caras tinham um papo chato para caramba.

Voltei para minha cabine que fedia a cerveja, encolhi-me num cantinho, comi meu chocolate e continuei bebendo, já havia esperado duas horas e meia e nada do trem andar. Certamente perderia minha conexão em Katowice e o que era para ser uma viagem tranqüila, com aquele frio, tornava-se um tormento.

Continua...

BR Na Europa!

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