Noivado Aleatório e Preparativos...

Você deve estar pensando: “Pera, pera, pera, mas noivou assim rápido? Por quê?”.

Coisas da vida. Sabe quando a gente pensa que gosta de alguém pra valer? Pois é. Mas eu gostava mesmo, e o macaco velho aqui acabou caindo no conto do vigário. É claro que não foi bem assim. A Mika era uma pessoa excepcional, muito boa mesmo, parecia até piada. Ela queria ficar comigo. Não podíamos, afinal você sabe como é. Eu não podia morar na Europa sem visto e nem ela no Brasil. Assim entramos num acordo mútuo, casaríamos e ficaríamos juntos.

Eu tinha meus planos de ir para o Canadá com os amigos, mas se levasse mulher junto, a coisa seria diferente. Então veio a proposta:

- Você vai para Praga e fica lá comigo, caso não dê certo, porque as coisas não são tão fáceis, voltamos ao Brasil ou escolhemos outro país.

Perfeito! Sempre tive vontade de conhecer esse lado da Europa... Loiras lindas, maravilhosas, Sharapovas... OPA! Esqueci que iria casar; mas droga, tinha que respeitar a mulher a partir de então.

Reveillon em Praga 2009-2010

De qualquer forma estava sob aviso, fim de 2009 ou início de Dezembro precisava cair fora, e tinha tempo para me planejar. Então segui os mesmos passos, com alguns adicionais é claro, da ida para o Canadá:

Passo 1: Custo de vida.

Alto pra cacete, pode não parecer aos olhos, mas Praga é uma cidade cara. Só o aluguel mataria as economias.

Passo 2: Idioma

Putz, quase chorei aprendendo algumas palavrinhas em tcheco. Se querem uma dica, visitem o livemocha.com

Passo 3: Culinária

Muito ruim, e o pior é que a mulher era vegetariana, eu estava ferrado.

Passo 4: Como casar lá

Deu trabalho, muito papel, muito carimbo, um inferno.

Passo 5: Emprego

Esse foi o pior. Apesar de ter muitas empresas na capital. A educação dos tchecos é muito boa, quase todo mundo tem mestrado e doutorado e ainda assim, desempregados. Claro que têm ressalvas, mas a coisa lá não era fácil. Não muito dinheiro, para o esforço.

Passo 6: Quanto precisaria inicialmente

Esse não foi um grande problema, meus pais deram uma força quanto a isso.

Pois bem, esses foram os seis passos básicos que segui. Mas tínhamos um problema. Ela estava desempregada, eu também. Do jeito que ia a coisa ia melar. Apesar de tudo eu sempre tenho uma carta na manga para essas situações. E consegui levantar um dinheiro. Junto com os trocados que tinha juntado para ir ao Canadá, a coisa andou.

Após mil ligações para a embaixada tcheca, a fim de conseguir os carimbos necessários em meus documentos para casar (inúmeros, você fica cansado só de ver nos papéis), passagens compradas (sim, passagens, tinha que ser ida e volta, não se sabe o dia de amanhã, certo?) como presente de meus pais, aliança na mão, mochilão comprado no camelô em Salvador, porque só poderia carregar 20kg (mudança de 20kg é lasca, tá de sacanagem!) e roupas para frio, uma coisa martelava em minha cabeça. Algo estava errado.

A Mika andava meio esquisita (na verdade ela sempre foi, o bobão aqui que não viu direito). Ela também arrumou um trabalho nesse meio tempo. Uma pessoa que fala 9 idiomas ficar sem emprego é fora do comum, e por falar coreano, ela arrumou emprego na Hyundai tcheca, que não ficava em Praga, mas sim em Ostrava, na borda leste do país. Ela odiava o emprego e pediu para ir morar no Brasil, antes de eu ir. Mas não fazia sentido para mim. Ela sempre quis um bom emprego e conseguiu, estava com dinheiro para caramba no bolso, trabalhava com o idioma que gostava (coreano), o que estava errado? Eu disse que não. Já tinha gastado uma nota com documentos pra casar na Rep. Tcheca, e para mim não fazia sentido essa mudança repentina. Talvez tenha sido aí o começo do fim.

Após alguns meses ela começou a agir estranhamente. Sempre ocupada, sempre cansada, sempre no trabalho. A primeira coisa que imaginei foi: “PUTZ! EU SOU CORNO! “ Mas não era. A situação era bem verdadeira. Não minto dizendo que fiquei tranqüilo com tudo isso. Mas a minha reação foi... Cair na farra novamente, é claro! Não tinha ninguém olhando, porque me reprimir quando minha noiva está longe e maluca?

Ah fala sério, eu não merecia isso depois de tanto lenga-lenga. Então comecei a ir a festas novamente, catar umas minas aqui e acolá, umas domésticas também (porque são humanas haha) e conheci uma meninas pela internet. Resumindo comecei a gastar o dinheiro que tinha juntado. O noivado estava rachado, a ponto de minha noiva dizer que preferia o trabalho ao meu carinho. Tem noção? O bom é que eu já tinha notado e caído na bagunça. E nesse meio tempo, exatos Maio de 2009, eu conheci uma mina Polaca pelo Last.fm.

Eu não tinha muito que fazer. O casamento tava marcado, mas o noivado com problemas. Fui me apaixonando por uma garota que conheci na internet num portal de música. Não queria mais casar com a tcheca, mas o que dizer para todo mundo? Fiquei mudo. Arrumei um canto para ficar em Praga, casa de uns amigos alemães, e decidi que iria de qualquer jeito, o “pior” que poderia acontecer era o casamento voltar ao pé de antes.

Vendi meu Xbox, rifei outro no MDAN e com isso recuperei parte do dinheiro que torrei. Era hora de partir para o velho mundo. Sem plano, sem emprego garantido (porque tinha um como programador na Hyundai), sem garantia de visto. As únicas coisas que tinha era cara e coragem. Agora não dava mais para voltar atrás. Tinha que ir, todos esperavam que casasse com a tcheca, mas eu sabia que a coisa não daria certo e esse era o pressentimento que passava em meu juízo.

Os amigos que apostaram que eu não iria, teriam que pagar a aposta. Outros apostaram que eu não casaria e outros falaram que acabaria no Canadá. No fim de tudo todos estariam errados e minhas malas prontas.