quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Köln - Início de Noite



Era cerveja que não acabava mais. Beber com minha raça é um pouco sem noção, pois parece que eles vão beber todas as cervas do bar. O problema é que aquilo também era uma fábrica e ali não tinha como tomar TODAS! Foram muitas acredite, e até a mulher do meu primo já estava preocupada. A partir de agora nomearei os primos para que fique mais fácil a identificação, caso contrário até eu me perderei. Então chamemos os cabras de: primo1 e primo2, sendo o primo1 aquele que me buscou no aeroporto e primo2 aquele que fomos encontrar no centro da cidade. Hehe.

- Não já chega? Já estamos bebendo muito. – falou ela.

Se você um dia foi a Bahia sabia do vício de beber e com eles temos nomes para a última cerveja antes de irmos embora: Saideiras, sipiqueiras, de Jair, a última, a finada... É uma coisa sem fim. Mas já ficava tarde e a conta também ficava cada vez mais gorda. No mais, ainda tínhamos de jantar. Sim, naquela noite teríamos um jantar em família. Talvez me livrasse das batatas que tanto comia na Polônia e ficaria contente com um feijãozinho. Claro que a mulher de meu primo, a qual cozinhava, era vegetariana, então podia-se esperar de tudo.

A conta foi paga e podíamos deixar a taverna. As pernas se entrelaçavam mas eu ainda não estava no meu pior estado. Tudo que eu precisava era de um banho e tudo estaria lindo novamente. Um banho cairia bem, eram mais de vinte e quatro horas de inhaca e agora com bafo de cachaça. Era de mais pra mim. Justo eu que sempre falei mal dos europeus de que não gostam de banho, estava seguindo o mesmo exemplo. Claro que tinha um bom motivo... a cerveja. Mas nem eu aguentava o meu fedor.

Rumamos para casa visando o rango. Já estava meio faminto e o povo ainda me inventa de andar. Vício de europeu em achar que tudo é perto. Odeio andar. Passos e mais passos debaixo de uma garoa, ao menos o suor não escorria. Fazia frio e o vento parecia cortar a pele. Não era como na Polônia e o álcool também aliviava o frio, mas depois de um tempo tomando aquele vento na cara, eu já não sentia o nariz ou as orelhas.

Finalmente chegamos a casa e eu podia tomar meu banho. Não foi o famoso banho de gato, mas também não foi um banho demorado. Fiquei cheirosinho de novo e pronto para uma nova rodada. A mesa já estava arrumada e só faltava o rango aparecer. Entreguei uma camisa da seleção polaca ao primo2 para que ele desse ao meu pai como souvenir. Enquanto isso mais cerveja.

Quando a mulher de meu primo anunciou a janta à mesa meus olhos brilharam de alegria. Meu primo havia preparado um franguinho e ela os outros pratos. Sentamos a mesa e fui logo avisado:

- Belino, sei que você deve estar meio cansado desse tipo de comida, mas hoje comeremos... BATATA.

Jantar em família

E mais batata para alegrar


Que dor no coração. Mais batata para que eu engordasse. Definitivamente eu não voltaria a comer batata por uns três meses. Já não aguentava mais ver a cara daquele maldito caule que só nos faz engordar. Claro que educadamente falei:

- Sem problemas, eu até já me acostumei a comer esse treco amarelo.

Claro que tínhamos outros pratos, mas a batata seria o nosso “arroz” e acho que se não a comesse eu passaria fome o resto da noite. Todavia a comida estava excelente, eu só não pude exagerar no champignon porque o efeito é desastroso em meu rosto, fora isso comi feito um porco esfomeado.

Fotos, risadas e despedidas... Sim, o primo2, o qual demorei a encontrar e achei em frente à loja, estava indo para o Brasil com vôo logo pela manhã. Então após o rango, eu passaria na casa dele para conhecer a morada e pegar umas camisas para mim também. Vale lembrar que eu viajei apenas com vinte quilos de roupas, ou seja, o meu repertório não era lá tão grande e eu começava a repetir roupas demasiadamente, o que não era bom para a minha imagem de “galã de novela” uheuehueh. Claro que poderia comprar, mas eu começava a ficar mão de vaca devido à diminuição de minhas reservas.

Após a janta seguiu-se o plano. Seguimos para o metro, rumamos para o centro e de lá para o apartamento. Ahh, pára tudo. Esqueci de dizer que antes precisávamos esquentar o peito, então paramos num mercadinho para comprar Jägermeister, uma bebida alemã que parece ser feita de ervas e quando desce esquenta o peito que é uma beleza. E apenas após uma dose desse treco que fomos para casa. O lance era o seguinte. Eu estava com minha mochila velha de guerra, botei as coisas dentro e então deveria encontrar o meu outro primo em frente a um bar.

Acredite é uma ótima bebida. Se tiver oportunidade beba.


Como desculpa, primo2 disse que me levaria ao metro para que eu não me perdesse. Eu já estava pra lá de Bagdá, mas me perder ali era meio difícil. Saímos de casa e ele falou que havia um bar brasileiro que deveríamos ir. Acho que ele também estava meio desajuizado, também... bebemos o dia todo. Era explicável. Mais uma paradinha para outro shot de Jägermeister e tudo estava lindo. Seguimos para o tal clube brazuca onde rolava um pagode. Um pagode sempre cai bem, ainda mais para mim que já tinha alguns meses que não via um. Entramos no tal bar e ele tinha bem pouca gente. O pagode rolava com uma bandinha até boa, mas sem gente dançando nem nada disso. Tomei mais uma cerva com o primo2 e dei um tempinho por lá.

O pagode não animou muito, engraçado era ver os BRs fazendo cara de espanto quando eu falava que estava na Polônia: “Mas lá não é muito frio?”. Perguntaram três garotas que estavam no pagode. Claro que é frio aqui nesse fim de mundo, mas se tem alguém para te esquentar tudo fica lindo certo? Não era sempre como estar em Katowice sofrendo...

O celular tocou. Primo1 esperava-me ansioso. Ele queria saber onde diabos eu tinha me metido com primo2, além do mais, a mulher de primo2 estava tensa querendo saber porque ele demorava tanto, e ele no pagode, é mole? Como estava combinado eu iria ao encontro do primo1, até porque primo2 precisava muito ir para casa descansar, afinal ele teria que encarar uma pequena jornada de 10h de vôo, fora a viagem de trem de Köln até Frankfurt. Só de pensar fico cansado. Despedi-me do primo2 e desejei-lhe boa viagem, sai do bar.

No telefone o primo1 continuava a falar:

- Pega qualquer comboio ai onde você está e vai para a esquerda, na primeira parada você desce. Eu estou em frente a uma farmácia.

Fiz como ele disse. Peguei o primeiro trem urbano que passou e fui nele por uma parada, mais uma vez sem pagar, já na mão de vaquice. Desci e vi a farmácia. Fui até a porta e não vi o infeliz do primo1. Àquela altura do campeonato eu já não fazia idéia de como ir para casa. O celular estava com a bateria quase esgotada, mas tocou novamente. Quando atendi a bateria descarregou... eu estava perdido, meio bêbado, e em meio a uma multidão que andava de um lado para o outro no centro da cidade. Estava frito.



BR Na Europa!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Köln - O início

Antes de começar o post gostaria de pedir desculpas pelo tempo que levei para atualizar o blog. A verdade é que arrumei um emprego e ainda tenho projetos pessoais em andamento. Então desculpa galera. Vamos ao post:

A minha micro-mala já estava toda amassada devido a minha nova pesagem adquirida com batatas. A espera se estendia e eu ficava lá no frio com minha cara de paisagem. Bem, não estava lá tão frio, faziam 2 ou 3 graus positivos, e isso dava para tirar de letra. O ruim era esperar. Eu odeio esperar.

Por sorte não demorou muito, em cerca de meia hora avistei de longe meu primo e sua esposa. Abraços daqui, saudações, uma conversinha e seguimos para pegar o trem. Andamos rápido para a estação. O trem estava esperando para zarpar, corremos e entramos. Primeira impressão, perfeita.

O trem era limpo e novo, diferente dos trens polacos e tchecos. Agora realmente parecia que estava na Europa. Enquanto conversávamos uma cantoria deu-se início.

- É o time joga hoje. – Falou meu primo.

- Mas o povo já está enchendo a cara às 11 da matina?

- Normal, pai. Esse povo é assim. O time o Köln não ganha um jogo, mas é só um motivo pra encher a cara.

Ao menos a estação onde deceríamos não era longe. Coisa de dez minutinhos e poderíamos descer. A cantoria torrava a paciencia, mas o pior é que eu não estava tão nervoso pela cantoria. Estava nervoso por ser sábado pela manhã, os sacanas já estavam bêbados, e eu ainda não tinha tomado nem uma birita.

Descemos do trem e seguimos para casa, eu precisava comer alguma coisa. Larguei os bagulhos no quarto que arrumaram para mim e comi um sanduíche. Não tomei um banho, não tirei um cochilo, não troquei de roupa.

- Vamos para rua. Meu irmão está nos esperando. – disse meu primo.

- Beleza, é bom dar uma volta, fiquei jogado no aeroporto por muito tempo.

Saímos de casa em direção ao metro. Era uma caminhada curta. Entramos no trem.

- Não vamos pagar? – perguntei.

- Ah, são apenas duas paradas. Precisa não.

Ficava claro que não só na Polônia a galera se fazia de cego. Claro que brasileiro sempre quer tirar vantagem em tudo, e tenho certeza que se o mesmo sistema aplicado na Alemanha, Polônia ou Rep. Tcheca fosse aplicado no Brasil as empresas de transporte público iriam a falência no primeiro mês. Era simplesmente colocar o bilhetinho na máquina e se alguém resolvesse checar você mostraria. Na Rep. Tcheca os homens que faziam o controle só paravam japoneses turistas, e iam de monte em cima da pessoa, tipo 15 contra um ou 2. Na Polônia eles andam em pares, e já vi muita gente conseguir fugir na corrida. Mas na Alemanha o controle parecia ser mínimo. Ao menos não vi ninguém sendo verificado. Essa era a deixa para BR não por o bilhete.

Seguimos para o centro, descemos em Neumarkt ( Novo Mercado) e seguimos com destino à catedral, Döm. Meu primo esperava encontrar com seu irmão, meu outro primo é claro, em meio a bagunça das promoções pós-Natal. Andamos em círculos até recebermos a ligação da mulher do meu primo no 2. Estavam na Zara esperando a gente. Cumprimentos, abraços, matando a saudade da família e tudo mais. Fomos dar uma volta, pois o primo no 2 embarcaria ao Brasil no dia seguinte. A idéia era achar os últimos presentes para que ele levasse. Eu tinha comprado uma camisa da seleção polonesa de futebol para o meu pai, e entregaria, era o suficiente. Já o meu primo no 2 estava catando presente para toda a famíla, e acredite, a famíla é grande.

Ajudando nas compras no maior estilo "vai lacraia".

Acabadas as compras, era hora de parar para descansar um pouco. Andamos um bocado durante aquele resto de manhã. Paramos num café e saiu a pergunta:

- Vai querer beber o que, Belino?

Só me vinha a cerveja que os alemães estavam bebendo no trem na cabeça. Mas de barriga vazia é complicado. Precisava ao menos comer algo.

- Um cappuccino e um bolinho cairia bem.

Comi e tomei meu café. Saímos de lá para a catedral de Köln para tirarmos umas fotos. É um lugar realmente fantástico. A estrutura da igreja é linda com seu estilo gótico. Além disso, ela é tão imponente que se pode ver praticamente de qualquer ponto da cidade. É um lugar no mundo que vale a pena se ver. Não vou parar para descrevê-la, pois é algo que descreve-se sozinho com o visual. Claro que na internet você encontra imagens, mas não é a mesma coisa. Tem que ser ao vivo e a cores. Além disso, eu escreverei outros posts futuramente sobre a cidade de forma turística, pois dessa vez era para ver a minha raça e com esse propósito eu escreverei esse post.

Em frente a catedral, sem fotos do local para vcs =)


Coffee Break =)



Era hora de ir a taverna tomar uma cerveja. Descemos uma rua e demos de cara com um bar que também era uma pequena fábrica. Era hora da cana começar. Haha. A taverna era bem característica, parecia algo tipo aqueles filmes medievais, bem legal o ambiente. Adentramos e arrumamos um lugar. Estava lotado. Era hora da cachaça.

É cana manolo!

domingo, 14 de novembro de 2010

A Caminho da Alemanha


Após dois dias de meu amorzinho para lá e meu amorzinho para cá, recebi um convite para fazer uma nova viagem. A esposa de um dos meus primos fazia questão de que fosse visitá-los na Alemanha. Pagaria a passagem e eu ficaria com eles por uns quatro dias. Seria uma boa aparecer lá e mudar um pouco os ares. Eu começa até a gostar de Łódź, mas ainda não me enchia muito os olhos. Aceitei então o convite. 

Claro que a Priceless Girl não gostou muito da idéia. Ela queria viajar comigo, mas não podia, tinha que bater a marreta dela e como era nova na empresa preferiu não pedir dias de folga para isso. Eu iria num sábado pela manhã, dia 20.02, fazendo o trecho Warsaw-Köln às 9h da madrugada e voltaria no dia 24.02 às 6h40min da matina. Tinha uns três dias para me organizar. Como o primeiro vôo seria às nove. Achei que daria para sair de Łódź às seis da manhã, não era uma jogada muito inteligente uma vez que eu tinha que chegar um pouco antes já que seria uma viagem “internacional”. 

Eu não vou mentir, a essa altura do campeonato eu já estava com o bolso meio capenga. Ainda tinha um trocado mas custava a gastá-lo porque poderia ser o dinheiro a ser usado no Brasil para comprar alguma coisa. Então qualquer trocado que gastasse era lágrima. Eu tinha que ir a Varsóvia de qualquer jeito para pegar o vôo. O problema é que o trem custava uns 36 zlotys ( uns 18 reais na época ) só que eu teria que pegar mais um táxi da estação para o aeroporto, sendo que podia ser enrolado por um polaco metido a esperto e acabar tendo que pagar uma fortuna. A saída era ir de ônibus então. Sairia de Łódź e em cerca de 2h ou um pouco mais estaria em Varsóvia, só que já no aeroporto. 

Consultando o horário dos ônibus acabei tendo que sair de casa às cinco e meia da manhã. Dava para chegar ao aeroporto horas antes e ficar tranqüilo lá até embarcar. Logo esse era o caminho, seria mais barato e mais seguro. Melhor esquecer esse lance de trem, mesmo porque minhas experiências com eles não eram das melhores. 

No dia da viagem a Priceless Girl levou-me à estação para que eu pegasse o ônibus. Pegamos um táxi e seguimos para o centro. Tínhamos que esperar no frio enquanto o ônibus não aparecia. Ficamos lá conversando abraçados tentando nos aquecer e conversando. Ela realmente queria ir comigo, mas não tinha como. Um, dois, três ônibus e nada do meu aparecer. Seria realmente ali que deveríamos esperar? Tínhamos certeza que sim, mas já passava do horário e o ônibus não aparecia. Perguntamos, quer dizer, a Priceless Girl perguntou a um senhor se era ali que deveríamos esperar. Ele disse que sim, que também estava esperando o transporte e que sempre fazia o trecho nesse horário, que poderia ficar tranqüilo que ele passaria. 

O coroa estava certo, o ônibus demorou, mas apareceu. Eu carregava apenas uma mochila e minha micro-mala. Não tinha por que carregar um monte de bagulho para quatro dias. Remember: Travel Light. Hehe. Despedi-me da Priceless Girl e entrei na bumba. Fiquei um pouco triste por deixar meu amorzinho por uns dias. Mas é sempre bom rever os familiares, mesmo que seja por pouco tempo. 

Como disse anteriormente, a viagem duraria cerca de duas horas, e a primeira parada em Varsóvia seria a minha, o aeroporto. O ônibus partia e eu via a minha garota indo para um táxi tentando voltar para casa. Como no inverno o sol nasce bem mais tarde, eu poderia aproveitar para cochilar, eram cinco e meia da madrugada e eu ainda tinha duas horas. Claro que tinha o medo de passar do ponto como ocorreu em Praga, mas ao menos não tinha o “Russo”. Dava para dormir numa boa. 

O ônibus ia silenciosamente cortando a cidade de Łódź, o sono me dominava e eu queria tirar aquele cochilo. Dormi. Mas não era aquele sono gostoso, era aquele sono tipo: “Ai meu Deus, onde eu estou?”. E você sabe que dormir assim é uma droga, né? Você não descansa direito e ainda não está completamente atento ao que está acontecendo. A cada cinco minutos eu acordava meio que no desespero. Além do mais, com esse negócio de neve e pista escorregadia, eu não confiava no motorista. 

Em um desses cochilos senti o ônibus parando. Era uma cidadezinha e o motorista parecia fazer hora lá. Eu acordei meio que no desespero, pois não sabia onde estava. Também não sabia que teria aquela parada antes de Varsóvia, mas como o motorista havia dito que só pararíamos no aeroporto, acalmei-me e voltei a “nanar”. 

A viagem continuava até chegarmos a uma via expressa. Nesse momento eu resolvi não dormir mais. Pela janela via a neblina se dispersar e já não me preocupei tanto. Meu medo era simplesmente “dormir no ponto”. O ônibus ia até rápido demais para as condições da pista, mas não havia curvas. De repente quebramos a direita. A frente havia um prédio grande, certamente o aeroporto. O ônibus aproximou-se de um estacionamento e parou. Desci com minha mochila e minha mini-mala. Era o aeroporto. 

Segui para o saguão principal. O aeroporto era um ovo, menor até mesmo que o de Aracaju, se é que isso é possível. Brincadeira, haviam dois saguões, eu fui ao primeiro, mas não encontrei informação alguma, então segui para o segundo onde pude ver guichês das agências de viagem. Uma bagunça. Foi então que vi em uma das telas onde mostra os vôos a acontecer no dia. Lá tinha o meu embarque, Köln-Bonn, e o horário que 
seria, com mais uma informação dizendo que o guichê ainda não estava aberto. Claro que não estava, ainda é sete e meia da manhã “carai”. Foi ai que resolvi. 

- Vou catar uma cadeira para tirar um cochilo. Assim eu chego na Alemanha descansado e tenho forças para dar uma volta logo pela manhã. 

Subi umas escadas e vi uns bancos acima junto a uma tela com os embarques. Era o local perfeito para o cochilo. Dava para olhar a tabela e estar sempre atualizado no horário. Fiquei lá por uns cinqüenta minutos, dormindo e acordando para olhar as atualizações na tabela. Era melhor do que nada. Fiquei lá na maior maresia do mundo. Até que apareceu que o guichê estava aberto. 

Desci as escadas e dirigi-me ao tal balcão. Era o primeiro e único da fila. A mulher me atendeu em alemão. 

- Ou minha senhora, não tem como falar inglês, não? 

- Desculpe. Passaporte, por favor. – falou em inglês. 

Bem melhor. Entreguei o tal passaporte e ela olhou para minha cara. Tudo nos conformes. 

- A sua bagagem, senhor. 

Bagagem? Eu só tinha duas malas que eram consideradas bagagem de mão. 

- Eu só tenho isso aqui. Preciso mesmo despachá-las? 

- O senhor tem direito a uma bagagem. O que deseja fazer? 

Despachei a minha micro-maleta vendo a cara da gringa com vontade de rir. Não tinha porque fazer aquilo, mas já que tinha direito, por que não? Peguei o meu bilhete e segui para a sala de embargue. E aquele mesmo esquema chato de esperar a boa vontade de deixarmos entrar no avião. Porque raios demora tanto? Tudo em aeroporto é demorado. Um saco mesmo. Após mais uma hora de espera entrei na droga do avião e em uma viagem relâmpago, já estava em Köln. Num deu tempo nem de folgar o sinto pra peidar. 

Aterrisamos e fui pegar a minha micro-maleta. O povo saia cheio de bagulho e eu com uma malinha do tamanho de um ovo de codorna que só mal dava para por as meias. Peguei minha tranqueira e sai do aeroporto, ou ao menos tentei. Meu primo e sua esposa falaram que estariam a minha espera, e não estavam lá. Fiquei com cara de tacho. Pro meu consolo não estava frio como na Polônia. E eu não sabia o que fazer. Peguei o celular e tentei ligar pro meu primo. 

OCUPADO. 

Tentei ligara par a esposa dele... 

OCUPADO. 

Danou-se. Por sorte eu tinha guardado o telefone de meu outro primo, em caso de emergência, e liguei para ele choroso. 

- Eae cara, beleza? Rapaz, acho que me esqueceram aqui pelo aeroporto. 

- Oxe, eu pensei que você chegaria mais tarde. Pera que vou ligar para saber o que aconteceu. 

Fiquei lá esperando com cara de bunda. Normal... Recebi a ligação. 

- Eles já estão a caminho, pensaram que você chegaria mais tarde. Espera o pouquinho aí que já já eles aparecem. 

E foi isso... fiquei mofando na porta do aeroporto esperando a boa vontade do povo aparecer.

BR Na Europa!

sábado, 6 de novembro de 2010

A Sogra

Uma vez a Sra. Hakkinen me disse enquanto me mostrava a cidade de Praga:

- Você é uma pessoa adorável, difícil não gostar de ti.

Em um sábado pela manhã fiquei pensando nisso quando Priceless Girl deu-me uma notícia:

- Ah! Esqueci de falar. Minha mãe quer que jantemos na casa dela amanhã a noite.

Geralmente quando estamos num relacionamento e temos que conhecer os sogros entramos em pânico, mas graças a frase da Sra. Hakkinen eu fiquei tranqüilo. Afinal, segundo ela, eu era adorável e as pessoas gostavam de mim. Haha.

- Tudo bem. Amanhã iremos.

- Tem certeza?

- Qual o problema? Ela não vai correr atrás de mim com uma faca porque estou namorando a filha dela, certo?

- Tudo bem, confirmarei nossa presença.

Sabe aquele sentimento de que se você conhece sua sogra é porque a coisa está ficando séria? Pois foi isso que senti. Tinha pouco mais de uma semana desde que voltei à Polônia e recebi esse convite. Acho que eu esperava por isso e assim não liguei muito, mas o sentimento de que a coisa estava ficando séria tomou conta de mim.

Se pararmos para pensar eu cai de pára-quedas na vida da Priceless Girl. Ela tinha uma vida tranqüila até eu invadir o apartamento, tomar parte do guarda-roupa, começar a fazer compras, passear, dividir as despesas, limpar a casa... Meu Deus! Era uma vida de casado sendo que eu era a Maria e ela o João! Não vou mentir que os meus dias assim eram bem cômodos. Jogava meu videogame quando queria, ia ao cinema, tinha sempre um trocado no bolso... Estava tudo muito bem. Na verdade não sei do que as mulheres reclamam.

O jantar havia ficado para domingo. Priceless Girl e eu já havíamos combinado de ir ao mercado e fazer algumas compras antes de irmos para casa de sua mãe e foi isso que fizemos. Saímos pela manhã e ela mostrou-me outro mercado onde as coisas eram quase a metade do preço. Sacanagem! Custava dizer antes? Assim eu não precisava gastar tanto. O negócio ficava perto de casa, dava para ir andando que em 5min eu estaria lá.

Indo para o mercado... brrrrr


Voltamos para casa para que eu me “embonecar”. Tomei um banho, fiquei cheirosão e era hora de encarar a sogra. Sinceramente não fiquei nervoso nem nada. Já não posso dizer o mesmo da minha namorada, foi a primeira vez que a vi tão nervosa com alguma situação. A primeira de muitas... Saímos de casa, pegamos um ônibus e assim fomos para a casa da sogrinha.

Realmente ficava bem próximo do albergue que eu havia ficado hospedado quando fui a cidade pela primeira vez. Seguimos para o prédio e Priceless Girl interfonou. Nem precisou falar nada e a porta se abriu. A mãe dela já estava esperando ao pé do interfone provavelmente ansiosa. Subimos a escada e alguns andares acima a porta se abriu.

Uma senhora nos recebeu, era a senhora Priceless com um sorriso no rosto. Abraçou a filha e cumprimentou-me. Aparentava ser uma pessoa bem simpática assim como a filha. Mas fisicamente elas eram bem diferentes, acho que apenas na estatura se assemelhavam. Além disso, a Priceless Girl sempre agia de forma enérgica enquanto sua mãe tinha uma expressão de pessoa que adora dormir. Isso não vem ao caso. Entramos e fomos para a sala.

A expectativa para o rango era grande. Muitas meninas já me disseram que se ganha um homem pela boca. Mas esse não era o “dom” da minha namorada. Ela sabe cozinhar, mas no geral é comida polaca e macarrão. Ela sabe fazer todos os tipos de macarrão que você imaginar. Além disso, tem uma panqueca divina, nunca tinha comido panquecas como a dela. Voltando à mesa, esperava dessa vez ser “laçado” pela boca.

A primeira refeição... Sopa. Se você me conhece a fundo, sabe que esse é um prato que nunca me agradou. 
Não importa o tipo de sopa, para mim é tudo igual. Como convidado não pode dar pitaco. Agradeci e tomei caladinho a minha sopinha. Estava até gostosa, mas sopa... Não é comigo. Enquanto colocava o rango para dentro, a Sra. Priceless começou a conversar. Fui surpreendido com o seu inglês, desde que tinha chegado à Polônia, ninguém com mais de trinta anos havia falado outro idioma comigo a não ser o polaco.

A sogrinha vendia a boa imagem de seu país enquanto eu finalizava minha sopa. Troquei o prato e a refeição principal estava a caminho. Eu não lembro direito o que foi que comemos naquele dia, mas certamente algo com batata, ou algo feito com batata, ou até mesmo batata ao molho madeira... Não sei.

Após a janta um chazinho para esquentar o peito e mais bate-papo. Priceless Girl deixou-me sozinho com sua mãe para olhar algo no computador. Eu continuava a conversar numa boa. Até que ela perguntou: (Essa conversa será postada em inglês por motivos de força maior)

- So, do you like Poland?

- Not really. At least your daughter makes me like it a bit.

- I know, it’s really difficult here in Łódź. For example, the streets are full of digs.

Nesse momento eu me segurei… Cheias de que? Parecia que ela havia falado “dicks”. A pronúncia é um pouco parecida, mas para eu ouvir aquilo algo estava errado... Para que eu trouxe o meu para cá? Haha. Claro que não ri na cara da mãe dela, seria de muito mau gosto.

- Err. Seria melhor pegar um dicionário para rever essa frase aí. – falei com um sorriso amarelo na cara.

Ela chamou pela filha para perguntar do erro. Priceless Girl não disse nada e então sua mãe foi pegar o dicionário para conferir.

- Oh dear... I’m sorry.

- Sem problemas. Acho que eu ouvi errado. De qualquer forma, melhor usar um sinônimo.

Eu ria por dentro, mas não podia mostrar. Que coisa... Cheia de “dicks”. Lá ele. O papo continuava e a coisa ficou mais séria. Ela começava as famosas perguntas sobre as intenções com sua filha. Aí sim a coisa apertou.

- E qual são suas intenções com minha filha?

- Não posso dizer ainda. Não depende só de mim. Gosto muito de sua filha, mas não posso definir nosso futuro sozinho. Ela também tem que mostrar o que deseja. Amo sua filha, mas não depende só de mim.

Meu Deus... Falei que amava a Priceless Girl do nada. Acho que foi o subconsciente. Nem eu sabia o que falar em seguida e mal consegui pensar. O palco estava armado e agora eu era o centro das atenções. Coração mole esse meu. Talvez estivesse gostando da minha vida de Maria. Vai saber. Ao menos fui salvo pelo gongo.

- Temos que ir para casa. – falou minha namorada.

- É melhor.

Despedimo-nos da Sra. Priceless e seguimos para casa. Eu queria que a viagem fosse em silêncio. Não aconteceu. Ela queria saber o que sua mãe conversado comigo.

- Nada de mais, só disse a ela que te amava.

BR Na Europa!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Em Nome do Vício - Final Capenga

O estacionamento era gigante. E estava cheio de áreas onde o gelo imperava. Eu derrapava muito, parecia mais o Michael Jackson, mas fazendo o “moonwalk” para frente. Não deu muito trabalho atravessar aquele treco, digamos que eu tinha o macete. O negócio era entrar no shopping, comprar minha muamba e cair fora dali. Mas você sabe como são as coisas, dinheiro no bolso e shopping são coisas que não combinam.

Entrei no bendito local pelo segundo andar. A primeira coisa que vi foi um supermercado. Como sempre andei com a mochila pensei em comprar alguma coisa para levar para casa. Já que estava na casa dos outros, comendo, dormindo, bebendo e gastando energia tudo na conta da Priceless Girl, fazer umas comprinhas não fariam mal. Eu não tinha aberto a dispensa para ver o que era necessário, mas queijo, presunto, coca-cola... Essas coisas sempre são bem vindas dentro de casa. Eu faria a tal compra após achar o local para comprar o adaptador pro meu vício. Saí da frente do mercado e comecei a caminhar.

Lojas, lojas e mais lojas, mas nada de eletrônicos. Nem mesmo uma loja de videogame achei. Seria possível? Parecia que sim. Dei mais uma volta pelo shopping para ter certeza de que não havia passado sem perceber. A única loja que tinha artigos eletrônicos era uma loja de departamentos, e uma livraria. O bendito adaptador não encontrei em nenhuma das duas. Onde seria essa bendita loja a qual a Priceless Girl se referia? Resolvi então perguntar ao velho guardinha.

Se você já esteve na Polônia alguma vez na vida deve saber que em algumas cidades quase ninguém fala inglês. Era o caso de onde eu estava. Como explicar o que eu queria? Não tinha nem como fazer gesto.

- Eletronics, eletronics...

E o cara me levou para uma loja onde se vendia TVs e geladeiras. Era de se esperar. Eletrodomésticos, eletrônicos... Tudo a mesma coisa. Agradeci e fiquei me perguntando o que fazer. Passando novamente pela praça de alimentação vi a minha solução. Havia uma loja do lado de fora e parecia ser de departamento. Seria ali?

Abri a mochila, tirei o casacão, agasalhei-me todo para encarar o frio novamente e segui para a tal loja. Entrei. Era uma loja de departamentos apenas de eletrônicos, certamente estava no lugar certo. Agora era achar o bagulho em meio a tantos adaptadores. Olhei, olhei e nada. Não achava a porcaria. Tinha adaptador de tudo que era tipo e modelo menos o que eu precisava na estante. O jeito era ir a um atendente e rezar para que ele falasse inglês. Dirigi-me a um senhor que trabalhava na loja e comecei a explicar a situação. Ele entendeu e levou-me para uma outra estante com adaptadores. Estava lá o que eu queria. Restava apenas pagar, passar no mercado, comprar uns bagulhos para comer e voltar para frente da TV iniciando o meu vício.

BR Na Europa!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um Breve Recado

Esse não é um post para contar histórias. O blog tem tido acesso de diversos países e fico muito feliz que toda a minha maluquice não está apenas sendo lida no Brasil, mas em vários países da Europa, Oceania e Ásia, até no Irã tem gente lendo. O interesse do pessoal pela história é legal e me deixa honrado de compartilhar minhas experiências.

Recentemente tenho recebido mensagens de leitores do blog pedindo que eu transforme minha história num livro. Seria interessante fazer isso se soubesse como fazê-lo. Cheguei a ler um pouco sobre o assunto e vi que muitas editoras trabalham com contratos independentes onde o "escritor" tem todo o custo de produção e a editora faz a logística e distribuição dos livros, isso no Brasil e aqui na Polônia. Isso custa um pouco caro dependendo da quantidade e eu não tenho fundos para isso. Portanto, caso você conheça algum empresário no meio literário e ele tenha interesse de publicar esse meu blablabla ficarei grato, mas de forma independente fica difícil. Além do mais, sei que não sou escritor e que o blog tem diversos erros de linguagem, concordância e afins, mas sabendo que até a Geisy Arruda e a Bruna Surfistinha têm livros, eu acho que também sou capaz uehuehuee.

Mais tarde posto o resto da história

Abraço a todos
BR Na Europa!


Ahh eu num gosto muito desse negócio de twitter não, mas quando atualizo o blog tenho postado lá também, então caso tenha interesse: @belinobr e caso queira me contatar para algo use email do blog =)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Em Nome do Vício - Parte 1

A minha volta a Polônia foi tranqüila. Sem transtorno na viagem, sem “russo” sem cerveja, tudo como manda o figurino. Priceless Girl buscou-me pela manhã na estação de trem e fomos para casa dela onde eu ficaria. Coloquei minha tranqueira toda no guarda-roupa, e ficamos conversando para colocar as novidades em dia.

Era estranha a situação, pois parecia que eu havia invadido a vida dela. Como o cara chega assim do nada, toma parte do guarda-roupa e diz que vai ficar até março? Eu era muito cara de pau. Eu não sabia qual seria meu destino após a Polônia, só sei que eu teria que voltar a Praga para embarcar de volta para o Brasil.

Os primeiros dias passavam e a coisa continuava a mesma. Pela manhã ela acordava e ia para o trabalho enquanto eu ficava em casa assistindo TV ou no computador fuçando a internet. Eu não podia sair de casa, porque caso saísse e batesse a porta eu teria que ficar na rua até que ela voltasse, o que poderia demorar um bocado. Priceless Girl tinha um emprego normal em uma companhia finlandesa, e a noite tinha atividades como instrutora de aeróbica em algumas academias. Portanto, ela poderia chegar até mesmo às 10 da noite. Era melhor não sair.

Após dois dias resolvi armar o Xbox e jogar um pouco. Era segunda-feira e não tinha nada para fazer. Ligar a TV e não entender nada do que se falavam não era legal. Era só blábláblá. Tirei o material vicioso da mochila e fui armando-o na sala. A TV que ela tinha era um “pouco” antiga, mas estaria tudo numa boa desde que funcionasse. Como não era esses modelos LCD, LED ou Plasma de hoje em dia sabia que o cabo HDMI não serviria de nada. Foi então que peguei o cabo para colocar na entrada AV. Virei a TV de lado e pimba! Não tinha AV. ¬¬

Era aquela entrada antiga que só se via na Europa. Eu precisava de um adaptador. Na caixa do aparelho sabia que encontraria, mas como levei na mochila, acabei deixando algumas coisas na casa dos Hakkinen, e o adaptador tinha ficado lá junto com a caixa com instruções e tudo mais. Não tinha outra opção, era sair para comprar o tal adaptador. Eu não quis arriscar ficar fora de casa até sabe-se lá que horas. Esperei para contar a minha decepção a Priceless Girl à noite.

Ao chegar em casa tive uma ótima notícia. Ela trazia consigo chaves para mim. Tinha pegado com sua mãe as chaves extras e deixaria comigo para que eu não ficasse preso em casa como um detento em condicional com aqueles rastreadores na perna. Fiquei feliz com a notícia e contei a ela sobre o problema com a TV.

- Você pode ir a uma loja em Manufaktura. Eles têm quase tudo de eletrônicos lá, certamente irá encontrar o que deseja. – disse ela.

Então era isso, durante a manhã eu iria ao centro tentar achar esse tal adaptador. Como estaria sozinho, seria o primeiro desafio lingüístico que teria na cidade de Łódź, e lembrando que tive uma péssima experiência em Katowice, sabia que aquilo não seria nada fácil.

Na manhã seguinte, após a minha namorada sair para o trabalho, resolvi me preparar psicologicamente para ir encarar meu desafio. Eu sabia mais ou menos o caminho a pé para o local. Não tinha o excelente mapa do McDonald’s comigo, teria que me virar. Vesti-me, fiz o sinal da cruz e sai de casa.

Estava frio lá fora, era neve acumulada em todo canto, gelo nas calçadas e um vento que parecia rasgar a pele. Nada disso importava, eu era guerreiro, precisava da droga do adaptador e não iria desistir por causa de um “friozinho bobo”. Saí do bloco onde estava e segui pela rua principal. Eu não tinha calçados para aquele tipo de ambiente. Usava um tênis baixo e marrom, que usara em Salvador para ir à faculdade. Então você imagina a situação, eu tentando andar e a neve que se acumulava e já batia quase no tornozelo, não deixando. Seria um árduo trajeto até o centro.

Andei pela rua principal e cheguei a um cruzamento.

- Hmm, acho que devo seguir adiante. Se não me engano a frente acharei uma pequena passarela que corta trilhos do trem.

Coisa linda é que na Europa você aproxima-se da faixa de segurança e os motoristas param. Param? Sim, eles param, mas não na Polônia. É raro um sacana parar para que você passe. E eu fiquei um bom tempo no cruzamento esperando um filho de Deus parar para que eu pudesse atravessar. E adivinha... Ninguém parou. 
O jeito era meter a cara e rezar para eles ao menos diminuírem a velocidade naquele asfalto escorregadio. Arrisquei-me e deu certo, quando eu estava no meio da faixa vi carros diminuindo a velocidade e parando enquanto eu estava na faixa.

- Hmm, então é assim que funciona aqui.

Saí andando numa boa e continuei seguindo a rua. Andar naquela neve parecia como na arei de praia, acho que por isso esse povo polaco desenvolveu pernas tão fortes. Três meses andando em toda aquela neve não teria como haver outro resultado. Seguia pela calçada, e logo vi a passarela. Subi as escadas e atravessei-a. Cheguei a uma avenida e precisava atravessar. Esperei que o sinal fechasse e atravessei-a. Deveria seguir em frente? Eu não lembrava direito, mas o senso de direção dizia que deveria. Eu saberia que estaria perto quando visse uma bicicleta pintada de branco que pertencia a um rapaz que havia morrido atropelado ali.

Eu continuava a me “arrastar” pela neve tentando ver a tal bicicleta branca. Avistei-a de longe e então percebi que não estava perdido. Estava chegando perto dela quando algo um tanto quanto inusitado ocorreu. Uma pessoa estava tirando a neve da varanda do apartamento e eu não tinha percebido. Ao passar perto recebi uma rajada de gelo na cabeça. Maldição. Acho que eram cerca de 6kg na minha cabeça. Não deu nem tempo de reclamar com o sacana que jogou aquilo em mim, quando olhei para cima não vi mais ninguém. O jeito era limpar-me e continuar o percurso.

Após a bicicleta havia um muro gigante e um clima um tanto quanto sinistro. Acredite, a cidade é bem esquisita quando se vê pela primeira vez e no inverno parecia uma cidade fantasma. O muro pertencia a um cemitério e eu odeio cemitérios. Tudo que mais queria era sair daquela área. O muro parecia não ter fim. Andava o mais rápido possível para passar por aquilo e enfim vi um semáforo adiante. Era o ponto de chegada.

Atravessei o sinal e um estacionamento que vinha logo à frente. Estava num shopping chamado Manufaktura. O que restava era apenas achar a tal loja que Priceless Girl havia indicado.

BR Na Europa!

sábado, 30 de outubro de 2010

A Última Noite em Praga - Final

Saímos do restaurante-boate por sugestão de Gama. Por mim ficaríamos lá mesmo. Era tranqüilo, não estava muito cheio e a bebida era barata. Como o plano anterior envolvia ir para esse outro lugar, acabei indo junto sem reclamar.

Seguimos em direção à Flora e pegamos um táxi. Os caras não deixaram a “gracinha” aqui pagar a parte dele. Foi até barato, coisa de 250 coroas tchecas (25 reais). Paramos a uma rua próxima ao centro num lugar um pouco apertado. Tinha um monte de gente na porta desse clube. A entrada custava 150 coroas tchecas (15 reais), mas o esquema era entrar sem pagar.

Havia nevado nos dias anteriores e parado a poucos dias, fazia muito frio do lado de fora, cerca de menos oito graus, e com isso, a neve que começava a derreter virava gelo nas calçadas. Então você imagina que alguns lugares a coisa era escorregadia. No equilibramos do outro lado da rua e traçamos o plano.

O manolo que sempre esqueço o nome possuía uma espécie de número em um papel com um carimbo (sim tudo nesse lado do mundo envolve carimbos).  Ele entraria, pegaria o carimbo no braço (não falei?!) e tentaria arrumar outro número lá dentro. Gama então entraria e pegaria outro número, e eu seria o último a entrar. Assim todos não pariam e a noite seria mais feliz. Hehe.

O manolo atravessou a rua e os brutamontes na porta o barraram. Gama e eu ficamos de longe observando a cena. Ele entregou o número, o gigante olhou, carimbou e deixou passar. A etapa um estava completa. Em três minutos o manolo voltava ao lado de fora. Pegou um número e entregou a gama. O papel tinha o número 15.

Então os dois seguiram se equilibrando sobre o gelo e Gama foi barrado na porta. Mostrou o papel com o número, foi carimbado e entrou. Eu fiquei lá na expectativa. Eles demoraram um pouco mais dessa vez, e eu com minha cara de bunda sozinho no frio. Cerca de dez minutos depois eles saíram.

- Oh Belino, a gente não conseguiu um número para você.

- E aí? O que vamos fazer.

- Você vai para casa e a gente fica.

- Sem graça, sério caramba.

- Toma aqui, é o mesmo número que eu usei.

- Não vai dar problema isso não? Olha o tamanho dos caras na porta, se eles me empurram eu estou lascado. Com esse gelo todo é capaz de eu ir parar dentro da estação de metrô.

- Fica frio e pega esse número. Fica tranqüilo, vai dar certo.

Peguei o tal número, me benzi e segui-os para a porta. Ao chegar lá me equilibrando para não cair, não deixei que os brutamontes me barrassem, mostrei logo o papelzinho. Gama e o manolo entraram e ficaram de longe olhando. O brutamonte mandou que eu passasse e outro cara me carimbou. Pude entrar tranquilamente.

O som de hip-hop contaminava o ar junto com a fumaça. Em alguns clubes ainda é permitido fumar dentro. Isso mata. O clube só tinha negão. Africanos e mais africanos dentro e umas tchecas doidas por eles. Era um ambiente até legal não fosse a fumaceira de cigarro. Entramos e guardamos os casacos. Fui para pista de dança com Gama enquanto o manolo ficava de longe só no balanço.

Havia um povo asiático lá também. Um maluquinho que se achava o Ne-Yo da coréia, e umas “japas” também. Dancei até cansar mostrando toda a malemolência brasileira no hip-hop (é eu danço legal). Cansei e procurei um lugar para sentar perto da pista. Havia algumas cadeiras disponíveis perto das japinhas, aproximei-me e sentei-me.

Fiquei lá um tempo para respirar um pouco. Uma das japinhas se aproximou e sentou ao meu lado.

- Cansou de dançar? – ela perguntou.

- É preciso dar uma respirada.

- Se importa se conversarmos um pouco?

- Não, por quê?

- Nada, você parece legal. Sou da Sibéria e você?

- Brasil.

- Oh, eu nunca fiquei com um brasileiro. – falou sentando no meu colo.

Ai meu Deus, eu juro que estava me comportando. A mulher era doida, sentou no meu colo e começou a acariciar as partes. Fiquei sem reação, mas aquilo estava errado. Tinha uma namorada e também tinha que manter a índole.  Não dava para catar geral e no dia seguinte chegar à Polônia com a cara lavada.
Pedi licença e saí dali. Não que eu fosse mole, mas sempre respeitei a pessoa com a qual estava comprometido. Gama aproximou-se e falou:

- Cara, vocês brasileiros são terríveis. Sempre atrás das mulheres. Eu preciso ir para casa, amanhã tenho um jogo de futebol. Você vai ficar aqui?

- Vou ficar mais um pouco. A coisa aqui tá legal.

E então Gama se foi e eu fiquei com o manolo. A siberiana não tirava o olho e a única coisa que me sobrou foi dançar com uma gordinha para ela parar de me secar. Deu certo, ela catou um negão e ficou por isso mesmo. O problema foram as outras siberianas com ela. Tinha uma que MEU DEUS! Suprema, mas não era para mim. Era melhor eu ir para casa. Ao menos não estava bebendo para não fazer besteira.

Despedi-me do manolo que estava se pegando uma gordinha doida e saí do clube. Passei pelos grandalhões da porta, desci os degraus e começou o problema. Saí escorregando e quase, mas quase mesmo caí no chão. Por sorte consegui me equilibrar a tempo. Seria um vexame. Havia gente do lado de fora. Duas minas se beijando e chamando um cara para se juntar a elas, e mais dois carinhas discutindo sobre futebol, além de outras pessoas que não lembro. Todos ficaram olhando para mim esperando eu cair. Não iria dar esse gostinho a eles.

Segui adiante até o cruzamento onde havia alguns táxis. Comecei a andar pela calçada, passei pelas meninas se beijando, pelos caras discutindo futebol e ao chegar ao cruzamento... ZUP! Pernas para o ar costas e cabeça no chão.

Foi um tombo terrível, mas eu não conseguia fazer outra coisa senão rir. Todo mundo na rua ria de mim e eu junto com eles. Tentei levantar-me... ZUP! Novamente. A coisa estava feia, nem ao menos levantar eu conseguia.  Uma das meninas que estava beijando a amiga ou seja lá quem fosse ajudou-me então a levantar. Quase caindo novamente eu consegui sair de lá. Entrei num táxi e voltei para a casa. Vergonha... ao menos não veria mais aquele povo. Estaria na Polônia no dia seguinte.

BR Na Europa!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Última Noite em Praga - Parte 1

O último dia em Praga prometia. Era uma sexta-feira, dia de farra e eu queria sair para tomar a última cerveja. Arrumei uma parceria da boa. Um manolo africano de Guiné, chamado Gama. Ele era casado com uma amiga de Chun Li, não bebia, mas curtia dançar e tudo mais. Durante o dia já havia arrumado todas as minhas coisas. Apenas deixei fora do mochilão roupas que usaria no dia seguinte e a bíblia para rezar durante o dia a fim de evitar outra situação incômoda como minha a ida anterior a Polônia.

Tomei um banho, fiquei cheiroso, botei uma roupa bonita, catei como chegar à casa de Gama e segui o meu caminho. Tinha combinado de encontrá-lo lá e depois iríamos para um bar. Na fria noite de Praga, acertei o trem urbano que deveria pegar e como não conseguia enxergar direito devido a neblina memorizei que ele morava próximo a um sexy shop.

Desci do trem no local certo, achei o prédio e interfonei. Ele pediu para que subisse, pois ainda estava se arrumando. Tudo bem, daria tempo de tomar um chazinho. Após esperar o nego se arrumar, saímos de casa e ele disse.

- Precisamos ir ao shopping primeiro, um amigo nos espera.

- Qual shopping? – eu só conhecia dois, mas gostava de parecer entendido. Hehe.

- Flora. Não tem problema, né?

Ah peraê, cara. Eu tava perto de Flora e o cara me fez ir até a casa dele pra voltar pra lá? Da casa dos Hakkinen para o shopping dava até para ir andando. Sacanagem.

- Não. Tranqüilo. – falei meio pirado.

Entramos em outro trem urbano. Coloquei minha passagem como de costume e o Gama não.

- Ow! Você não vai pagar?

- Pra quê? Eles nunca me pararam, não seria hoje que parariam.

Hmm, interessante. No metrô vi um monte de asiático turista sendo parado para checagem de bilhetes, até mesmo tchecos, mas nunca tinham me parado. Como eu havia pagado, não tinha problema. Seguimos para Flora numa boa e entramos no shopping que estava quase fechando.

Um carinha apareceu logo que entramos, era outro mano da Guiné. Gama e ele começaram a conversar num idioma estranho. E eu fiquei meio que sem entender nada.

- Que idioma é esse que vocês tão usando, cara?

- Francês. Pensei que você entedia.

Eu até entendo quando alguém fala francês comigo, e chego a responder numa boa, não em francês é claro. Mas aquilo parecia com nada. Muito tenso. Ablublublublublu ET blubluba. Era o que eu entendia.
Saímos de Flora e ficamos meio sem rumo. Eu conhecia o pub ali perto, mas Gama tinha outra idéia.

- Eu sei um restaurante aqui perto que dizem que é bacana, a gente pode ir lá, daí não precisamos ir ao centro agora.

A “noite” em Praga e em muitas cidades européias inicia-se 00h. É quando as boates estão enchendo e o povo saindo de casa para curtir. Seguimos então para esse tal restaurante para fazer o esquente. O lugar não ficava distante, andamos um pouco e logo o achamos.

Era um lugar bem legal. Aconchegante, música ambiente, boa iluminação e se encontrava cheio. Certamente um bom restaurante. Um garçom muito simpático servir-nos-ia. Pedi uma cerveja, Gama uma coca-cola com limão e o outro carinha, não lembro o nome até hoje e por isso não criei um nome para ele, pediu um suco. Tomei minha cerveja tranquilamente enquanto conversávamos.

De vez em quando ouvíamos uma barulheira de música eletrônica que rapidamente cessava-se. Era estranho. Eu não sabia de nenhum clube ali por perto e nem os rapazes. Resolvemos então perguntar ao garçom.

- Que barulheira é essa que ouvimos de vez em quando?

- Ah! Está rolando uma festa anos 80 no andar debaixo.

- Ué, mas isso aqui também é um clube?

- É cara, vocês podem ir se quiserem, só precisavam fechar a conta aqui.

- Quanto para entrar?

- Nada, basta estar no restaurante.

Opa, que alegria! Pagamos a conta, guardamos os agasalhos e descemos. Havia um porão grande debaixo de nossos pés e não sabíamos. Ao abrir a porta a música contaminou os ouvidos. Estava tocando Madonna. O ambiente era escuro e havia um bar que tomava quase todo o espaço. A área de dança era pequena mas o pessoal parecia se divertir. Algumas cadeiras, um monte de gente doida se balançando... era um lugar legal para se começar a noite.

Fomos direto para pista de dança. Gama mostrou seus passos ao maior estilo Ne-Yo made in Guiné enquanto eu dançava aleatoriamente. O outro carinha ficava apenas se sacudindo na dele, observando o mulheril frenético.

Eu curti bastante o som do local, gosta de músicas antigas principalmente dos anos 80. Enquanto eu lançava passos aleatórios senti alguém se esfregar em minhas costas. Virei para verificar, caso fosse algum cara metido a “chacrete”. Era uma ruiva, então deixei. Eu estava dançando numa boa de costas para ela, e de repente ela agarrou minha mão, queria dançar comigo.

Ela se insinuava toda, ia até o chão. Era uma garota linda, acho que a mais bonita que tinha visto em toda a Rep. Tcheca até então, coisa de cinema mesmo. Ruiva, olhos azuis, corpo escultural, ela usava um vestido vermelho bem colado ao corpo. Eu estava babando, a carne é fraca e o sangue brasileiro fervia. Ela sorria enquanto dançava insinuante tipo dizendo: Eu quero você seu BR safado.

Eu não falei uma palavra, apenas curti o momento. A música acabou e ela deu-me um beijo no canto da boca dizendo tchau. Ai eu fiquei bolado. Ela estava subindo a escada, então fui atrás. Provocou e ia me deixar assim na cara dura? Quando me aproximei ela não deixou que eu falasse nada:

- Ó, você é uma gracinha. Adorei você. – falou pegando no meu rosto. – De onde você é?

- Brasil.

- Nossa, tão longe. Você é perfeito, uma pena que não posso ficar com você, preciso encontrar meu namorado. Se não fosse isso a gente aproveitaria bem a noite. – ela pegou e deu um outro beijo no canto da boca se virando.

Nossa senhora, que mulher louca. E tinha namorado. Foi aí que caiu a ficha: Comporte-se mocinho, você agora é comprometido, respeite sua polaca. Voltei para dançar alegre por ter sido “a gracinha” de alguém tão bonita. Não peguei, mas valeu o elogio. É fácil mamãe dizer que é você é bonito, mas um mulherão daqueles, putz. Mas eu precisava respeitar aquela que eu clamei como namorada. Decidi que não cairia na gandaia aquela noite, sou menino direito.

Ficamos lá um pouco mais. Mas esse não era o nosso destino final, iríamos a outra boate, no centro da cidade. Saímos do “restaurante-club” e seguimos adiante para o resto da noite.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Encontros...

O dia seguinte já estava todo agendado. Primeiro iria à embaixada, depois iria dar um passeio com a Sra. Hakkinen para que ela me mostrasse parte da cidade que eu não conhecia. Logo pela manhã fui ao centro, rumo a embaixada brasileira. Esse negócio de embaixada é sempre um pé no saco. Cheguei e fui logo atendido pelo cônsul. Ele ficou surpreso ao me ver novamente e perguntou como estava o processo de abertura da empresa.

- Não há empresa nenhuma. Eu desisti e resolvi viajar um pouco mais.

- Sei, mas segundo a secretária o assunto de nossa conversa seria relativo a isso, certo?

- Exato. Gostaria de saber um pouco mais sobre o apoio financeiro da União Européia. O senhor não me comunicou.

- Ah, sim. Existe esse apoio, mas apenas a pessoas que possuem direitos como cidadãos tchecos, residentes e possuidores de visto permanente ou temporário. O senhor possui algum desses documentos?

- Não.

- Então não pode tê-lo. O processo é um pouco burocrático, mas semelhante ao sistema do BNDES, porém caso você mantenha a empresa não precisará reembolsar a união européia, desde que siga os passos de seu relatório inicial. Como o senhor não tem como dar início ao processo de abertura de empresa, acho que nossa conversa acaba aqui.

Simples e grosseiro. Sem chances pra mim e mais uma vez eu saia da embaixada murcho. Não tinha porque ficar em Praga, era melhor ir para a Polônia e ficar com minha nova namorada. Sai da embaixada, segui para estação e comprei passagens novamente para Łódź, dessa vez sem volta. Eu iria no sábado a noite, sim novamente a noite. Não havia passagens para Katowice durante o dia. Se eu desse de cara com o “russo” novamente eu acho que choraria.

Voltei para casa para esperar a Sra. Hakkinen, tínhamos combinado de sair para que ela me mostrasse alguns lugares. Ao abrir a porta tive a surpresa. Mika estava lá. Ela abriu um sorriso e me cumprimentou. Foi bem simpática, mas a situação era incômoda. Não havia ninguém na casa a não ser ela. Não queria ficar lá com ela, eu poderia fazer alguma besteira. Então, chamei-a para tomarmos um café na galeria que ficava próximo a casa. Ela aceitou.

Conversamos um pouco, sobre a vida. Ela só falava do trabalho e eu da viagem, estava quase como o chato do trem. Na verdade eu só queria fazer com que o tempo passasse e a Sra. Hakkinen chegasse em casa. A Mika estava lá porque precisava ir ao médico. Iria voltar no mesmo dia para Ostrava, o que, não minto, deixou-me um pouco aliviado. Após um café bem enrolado, ela recebeu um telefonema. Era Chun Li certamente dando notícia ruim. Sua avó havia caído de uma cadeira e não conseguia se levantar. Ela estava presa dentro de casa e não tinha como ninguém entrar.

A queda da vovó me livrou da situação de ter de conversar com minha ex-noiva como se nada tivesse acontecido. Havia uma grande comoção na família para ajudar a snhora de certa idade, mas ninguém possuía a chave do apartamento a não ser o tio de Mika. A saída com a senhora Hakkinen foi cancelada devido a esse fato.

Como não tinha nada para fazer liguei para a Priceless Girl para avisar que eu estava voltando no sábado. Ela se desesperou:

- Mas rápido assim?! Pensei que você levaria um mês aí?

- Não gostou da notícia?

- Eu adorei, ficarei te esperando.

- Ah, tem mais um detalhe, dessa vez não ficarei em hotel.

- E onde você vai ficar?

- Em sua casa.

Acho que se fosse vídeo chamada eu poderia ver ela esbugalhar os olhos de susto. Ela gaguejou, falou que ia comunicar a mãe. Estava feito. Eu iria de mala e cuia para Polônia. 

BR Na Europa!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Formatura...

Era quase hora de começar a me arrumar quando larguei o videogame nas mãos de Jerry. Desci e fui me arrumar. Um banho rápido para tirar o suor do corpo era o suficiente. Passei uma camisa e comecei a me vestir. Uma meia pequenina, um meião de futebol e uma meia para sapatos por cima. Calças, cinto, uma camisa de manga longa, outra listrada que havia acabado de passar e só ficaria faltando o terno. Fui ao espelho me barbear e tentar colocar o cabelo de alguma forma que não ficasse todo esburacado. Estica daqui, cera no miolinho, escovadas e até que não ficou de todo mal. Deu para tapear, coloquei o terno por cima e pronto.

Subi para encontrar Chun Li e a Sra. Hakkinen. Elas já estavam prontas. O irmão de Chun Li ligou e pediu para que ela comprasse flores, saímos então nós dois para realizarmos o desejo dele enquanto a senhora Hakkinen esperava o ator de propagandas. Olha, a essa altura do campeonato eu já odiava neve ao extremo. Aquela noite estava fria e não nevava, mas a neve acumulada nas ruas era algo angustiante. Conseguimos sair de casa e pegamos entramos na estação de metrô. Paramos em um mercado e compramos as tais flores. Seguimos para o metrô e fomos ao centro.

Ao chegar lá a Sra. Hakkinen já estava a espera junto com o ator. Saímos da estação e seguimos para um prédio antigo. Logo na entrada olhei para cima e vi uma escultura de um homem montado em um cavalo morto de cabeça para baixo. A escultura estava presa ao teto, coisa que você só vê em Praga. Fomos adiante e Chun Li mostrou-me que lá havia uma boate onde apenas tocava-se música dos anos 80. Parecia bem legal, mas não era esse nosso destino. Um pouco a frente havia um monte de gente em uma estrutura de vidro. O irmão de Chun Li estava lá angustiado a nossa espera.

Chun Li entregou as flores a ele que por sua vez entregou-nos os convites para que pudéssemos entrar. Tiramos uma foto lá fora e seguimos para dentro do prédio. Descemos uma escada e lá havia onde poderíamos deixar nossos agasalhos. Ao seguir adiante vi um salão imenso abaixo e camarotes para todo lado. O irmão de Chun Li guiou-nos até uma mesa pedindo para que aguardássemos a festa começar, ele ficaria com a família da namorada.

O irmão de Chun Li, Sra. Hakkinen, o ator e Eu


Se você acha que festa de formatura tcheca é igual à brasileira onde um monte de gente se reúne pra comer e beber de graça se engana. Eu também pensei assim e me dei mal. Por sorte tinha levado a carteira com algum dinheiro. O lugar estava um pouco abafado e a sede logo apertou. O ator perguntou-me se gostaria de beber algo. Opa! Falou a minha língua, vamos uma cervejinha para alegrar a noite. Chun Li e sua mãe não são muito chegadas a álcool então ficaram somente no suco.

Chun Li, Eu e o ator já meio bebado


O ator chamou-me então para ir até o bar, pediu as duas cervejas e os sucos e PAGOU! Isso mesmo... Ele pagou, cara. Que decepção, pensei que ia comer e beber de graça e o que vi foi um bar lucrando. Muita sacanagem isso. Voltei a mesa e entreguei os sucos. Eu fiquei muito chateado com tudo, mas não tinha alternativa, era pagar ou pagar. Os formandos começavam a desfilar no salão de festa no andar de baixo por turma. Era gente que não acabava mais. Eu não iria beber cerveja naquela formatura, então mudei para o uísque que era quase o mesmo preço.

Uma mulher que estava acompanhada e sentava-se a mesa ao lado da nossa ficou olhando para mim. Analisou de cima para baixo e deu um sorriso maroto. Eu respondi com outro sorriso meio sem graça, se o marido dela vê um treco desses você já imagina a merda que seria. Peguei meu copo e comprei outro para o ator que contava suas mirabolantes histórias. Numa dessas, ele bateu o olho numa estudante e disse.

- Nossa que peitão! Tô emocionado, eu quero ela.

Que figura, o cara não chegava em mulher nenhuma e ficava naquele fogo. Ai eu soltei:

- É parece uma krava.

Krava em tcheco significa vaca, mas também significa puta, eu não sabia dessa última. Chun Li deu-me uma pisada no pé e disse para eu tomar cuidado com o que falava. O ator só fazia rir enquanto outros convidados olhavam feio para mim.

- Krava também significa puta.

Que vergonha. Eu meninão amarelo querendo mostrar conhecimento e fazendo cagada. Também ficou por isso mesmo. Minha ignorância foi perdoada. A festa comia solta no andar de baixo para os estudantes. Um cantor que havia formado na mesma universidade se apresentava com música popular tcheca. Enquanto isso eu estava em minha segunda dose de uísque junto com o ator. A Sra. Hakkinen comprou alguns salgadinhos para que pudéssemos empurrar com a cachaça, ela não parava de tirar fotos. Aliás, um fato interessante. Ela tinha uma máquina bem antiga, que ainda usava filme, e estava lá se esbaldando com seu material fotográfico.

- É importante tirar fotos, tenho um monte de filme em casa para usar. – era realmente uma figura.

Depois do cantor se apresentar era a vez de uma dançarina profissional também formada na universidade. Ela demonstraria como dançar vários ritmos inclusive SAMBA! Aquilo eu precisava ver. Ela começou com valsa, em seguida salsa, merengue, lambada, bla bla bla, até o tal samba. Que papagaiada, a mulher dançou samba do mesmo jeito que dançou valsa, só que mais rápido. ¬¬

Após a sambista de meia tigela apareceram uns garotos dançando break. Eu não sei por que esse povo insiste em dançar break se não tem ao menos ritmo. Fazer a papagaiada é possível com prática, mas fazer a papagaiada com ritmo tem que saber dançar, carai!

E finalmente o momento da noite. As turmas pegaram umas lonas e começaram a sacudir. Os alunos ficavam nas pontas esticando a lona como aqueles elásticos de bombeiro e ficavam gritando no andar debaixo. O objetivo era simples. Que estava em cima tinha que jogar o dinheiro pros infelizes. O dinheiro arrecadado pela turma seria usado para que eles bebessem naquela noite. ¬¬

Eles não me pagaram nenhuma cervejinha e eu ainda tinha que jogar meus trocados para eles. Peguei cinco moedinhas de 10 coroas e joguei pros infelizes. Todo mundo tava jogando um monte de dinheiro e eu não podia sair de pão duro lá. Joguei cinco moedas com intervalos de 4 segundos cada e pareceu que eu estava jogando bastante. Os infelizes embaixo pareciam que morriam de fome catando o dinheiro. Mas era por uma boa causa, eles precisavam encher a cara.

Era hora de dançar. O povo se amontoava enquanto o DJ soltava o som. Músicas antigas, tchecas e americanas. Rolou de tudo. Chun Li queria muito dançar, mas eu ainda estava bebendo a última dose. Como os ensinamentos de minha mãe diziam para nunca deixar o meu copo à toa, dei uma sugestão.

- Por que você não vai com o ator? – falei.

O ator então a pegou pela mão e levou lá para baixo. A Sra. Hakkinen só fazia rir.

- Algo aconteceu? – perguntei.

- Não, não foi nada. É que você disse para o ator levá-la para dançar só que ele não sabe.

Terminei meu copo e aproveitei para ir ao banheiro. A mulher casada que me olhava anteriormente me seguiu. Na porta do banheiro, antes que eu entrasse, ela perguntou:

- Gostei de você. Está sozinho?

Olha a confusão, imagina se o marido dessa senhora me aparece lá na hora e dá uma de xiliquento.

- Comporte-se. – falei dando um sorriso safado.

- Posso me comportar se você pegar meu telefone. – falou me entregando um cartão.

Agradeci e entrei no banheiro. Rezei pro marido da infeliz não entrar lá e me quebrar todo enquanto eu urinava. Por sorte ele não apareceu. Voltei ao camarote e respirei fundo. É cada doida que me aparece. A Sra. Hakkinen então me mostrou onde Chun Li e o ator estavam. Eu nunca tinha visto ela tão vermelha. Parecia constrangida ao estar dançando com alguém tão alucinado. Não demoraram nem cinco minutos lá embaixo. Eu ria da cara deles, e ria de pena ao ver a cara da Chun Li. Ao voltarem o ator parecia em êxtase enquanto a sua parceira estava mais decepcionada que tudo. Fiquei com pena e a chamei para dançar.

Divertimo-nos bastante aquela noite. Com o ator comentando sobre os peitos de uma das formandas, com máquina fotográfica perfeita dançando e bebendo. Ao voltar para o camarote vimos o ator torrando a paciência do irmão da Chun Li, ele havia ido lá para apresentar sua namorada à mãe e aos outros. Cumprimentamos e sentimos que era hora de voltar para casa, antes que o ator fizesse alguma besteira.

BR Na Europa!