sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Köln - O início

Antes de começar o post gostaria de pedir desculpas pelo tempo que levei para atualizar o blog. A verdade é que arrumei um emprego e ainda tenho projetos pessoais em andamento. Então desculpa galera. Vamos ao post:

A minha micro-mala já estava toda amassada devido a minha nova pesagem adquirida com batatas. A espera se estendia e eu ficava lá no frio com minha cara de paisagem. Bem, não estava lá tão frio, faziam 2 ou 3 graus positivos, e isso dava para tirar de letra. O ruim era esperar. Eu odeio esperar.

Por sorte não demorou muito, em cerca de meia hora avistei de longe meu primo e sua esposa. Abraços daqui, saudações, uma conversinha e seguimos para pegar o trem. Andamos rápido para a estação. O trem estava esperando para zarpar, corremos e entramos. Primeira impressão, perfeita.

O trem era limpo e novo, diferente dos trens polacos e tchecos. Agora realmente parecia que estava na Europa. Enquanto conversávamos uma cantoria deu-se início.

- É o time joga hoje. – Falou meu primo.

- Mas o povo já está enchendo a cara às 11 da matina?

- Normal, pai. Esse povo é assim. O time o Köln não ganha um jogo, mas é só um motivo pra encher a cara.

Ao menos a estação onde deceríamos não era longe. Coisa de dez minutinhos e poderíamos descer. A cantoria torrava a paciencia, mas o pior é que eu não estava tão nervoso pela cantoria. Estava nervoso por ser sábado pela manhã, os sacanas já estavam bêbados, e eu ainda não tinha tomado nem uma birita.

Descemos do trem e seguimos para casa, eu precisava comer alguma coisa. Larguei os bagulhos no quarto que arrumaram para mim e comi um sanduíche. Não tomei um banho, não tirei um cochilo, não troquei de roupa.

- Vamos para rua. Meu irmão está nos esperando. – disse meu primo.

- Beleza, é bom dar uma volta, fiquei jogado no aeroporto por muito tempo.

Saímos de casa em direção ao metro. Era uma caminhada curta. Entramos no trem.

- Não vamos pagar? – perguntei.

- Ah, são apenas duas paradas. Precisa não.

Ficava claro que não só na Polônia a galera se fazia de cego. Claro que brasileiro sempre quer tirar vantagem em tudo, e tenho certeza que se o mesmo sistema aplicado na Alemanha, Polônia ou Rep. Tcheca fosse aplicado no Brasil as empresas de transporte público iriam a falência no primeiro mês. Era simplesmente colocar o bilhetinho na máquina e se alguém resolvesse checar você mostraria. Na Rep. Tcheca os homens que faziam o controle só paravam japoneses turistas, e iam de monte em cima da pessoa, tipo 15 contra um ou 2. Na Polônia eles andam em pares, e já vi muita gente conseguir fugir na corrida. Mas na Alemanha o controle parecia ser mínimo. Ao menos não vi ninguém sendo verificado. Essa era a deixa para BR não por o bilhete.

Seguimos para o centro, descemos em Neumarkt ( Novo Mercado) e seguimos com destino à catedral, Döm. Meu primo esperava encontrar com seu irmão, meu outro primo é claro, em meio a bagunça das promoções pós-Natal. Andamos em círculos até recebermos a ligação da mulher do meu primo no 2. Estavam na Zara esperando a gente. Cumprimentos, abraços, matando a saudade da família e tudo mais. Fomos dar uma volta, pois o primo no 2 embarcaria ao Brasil no dia seguinte. A idéia era achar os últimos presentes para que ele levasse. Eu tinha comprado uma camisa da seleção polonesa de futebol para o meu pai, e entregaria, era o suficiente. Já o meu primo no 2 estava catando presente para toda a famíla, e acredite, a famíla é grande.

Ajudando nas compras no maior estilo "vai lacraia".

Acabadas as compras, era hora de parar para descansar um pouco. Andamos um bocado durante aquele resto de manhã. Paramos num café e saiu a pergunta:

- Vai querer beber o que, Belino?

Só me vinha a cerveja que os alemães estavam bebendo no trem na cabeça. Mas de barriga vazia é complicado. Precisava ao menos comer algo.

- Um cappuccino e um bolinho cairia bem.

Comi e tomei meu café. Saímos de lá para a catedral de Köln para tirarmos umas fotos. É um lugar realmente fantástico. A estrutura da igreja é linda com seu estilo gótico. Além disso, ela é tão imponente que se pode ver praticamente de qualquer ponto da cidade. É um lugar no mundo que vale a pena se ver. Não vou parar para descrevê-la, pois é algo que descreve-se sozinho com o visual. Claro que na internet você encontra imagens, mas não é a mesma coisa. Tem que ser ao vivo e a cores. Além disso, eu escreverei outros posts futuramente sobre a cidade de forma turística, pois dessa vez era para ver a minha raça e com esse propósito eu escreverei esse post.

Em frente a catedral, sem fotos do local para vcs =)


Coffee Break =)



Era hora de ir a taverna tomar uma cerveja. Descemos uma rua e demos de cara com um bar que também era uma pequena fábrica. Era hora da cana começar. Haha. A taverna era bem característica, parecia algo tipo aqueles filmes medievais, bem legal o ambiente. Adentramos e arrumamos um lugar. Estava lotado. Era hora da cachaça.

É cana manolo!

domingo, 14 de novembro de 2010

A Caminho da Alemanha


Após dois dias de meu amorzinho para lá e meu amorzinho para cá, recebi um convite para fazer uma nova viagem. A esposa de um dos meus primos fazia questão de que fosse visitá-los na Alemanha. Pagaria a passagem e eu ficaria com eles por uns quatro dias. Seria uma boa aparecer lá e mudar um pouco os ares. Eu começa até a gostar de Łódź, mas ainda não me enchia muito os olhos. Aceitei então o convite. 

Claro que a Priceless Girl não gostou muito da idéia. Ela queria viajar comigo, mas não podia, tinha que bater a marreta dela e como era nova na empresa preferiu não pedir dias de folga para isso. Eu iria num sábado pela manhã, dia 20.02, fazendo o trecho Warsaw-Köln às 9h da madrugada e voltaria no dia 24.02 às 6h40min da matina. Tinha uns três dias para me organizar. Como o primeiro vôo seria às nove. Achei que daria para sair de Łódź às seis da manhã, não era uma jogada muito inteligente uma vez que eu tinha que chegar um pouco antes já que seria uma viagem “internacional”. 

Eu não vou mentir, a essa altura do campeonato eu já estava com o bolso meio capenga. Ainda tinha um trocado mas custava a gastá-lo porque poderia ser o dinheiro a ser usado no Brasil para comprar alguma coisa. Então qualquer trocado que gastasse era lágrima. Eu tinha que ir a Varsóvia de qualquer jeito para pegar o vôo. O problema é que o trem custava uns 36 zlotys ( uns 18 reais na época ) só que eu teria que pegar mais um táxi da estação para o aeroporto, sendo que podia ser enrolado por um polaco metido a esperto e acabar tendo que pagar uma fortuna. A saída era ir de ônibus então. Sairia de Łódź e em cerca de 2h ou um pouco mais estaria em Varsóvia, só que já no aeroporto. 

Consultando o horário dos ônibus acabei tendo que sair de casa às cinco e meia da manhã. Dava para chegar ao aeroporto horas antes e ficar tranqüilo lá até embarcar. Logo esse era o caminho, seria mais barato e mais seguro. Melhor esquecer esse lance de trem, mesmo porque minhas experiências com eles não eram das melhores. 

No dia da viagem a Priceless Girl levou-me à estação para que eu pegasse o ônibus. Pegamos um táxi e seguimos para o centro. Tínhamos que esperar no frio enquanto o ônibus não aparecia. Ficamos lá conversando abraçados tentando nos aquecer e conversando. Ela realmente queria ir comigo, mas não tinha como. Um, dois, três ônibus e nada do meu aparecer. Seria realmente ali que deveríamos esperar? Tínhamos certeza que sim, mas já passava do horário e o ônibus não aparecia. Perguntamos, quer dizer, a Priceless Girl perguntou a um senhor se era ali que deveríamos esperar. Ele disse que sim, que também estava esperando o transporte e que sempre fazia o trecho nesse horário, que poderia ficar tranqüilo que ele passaria. 

O coroa estava certo, o ônibus demorou, mas apareceu. Eu carregava apenas uma mochila e minha micro-mala. Não tinha por que carregar um monte de bagulho para quatro dias. Remember: Travel Light. Hehe. Despedi-me da Priceless Girl e entrei na bumba. Fiquei um pouco triste por deixar meu amorzinho por uns dias. Mas é sempre bom rever os familiares, mesmo que seja por pouco tempo. 

Como disse anteriormente, a viagem duraria cerca de duas horas, e a primeira parada em Varsóvia seria a minha, o aeroporto. O ônibus partia e eu via a minha garota indo para um táxi tentando voltar para casa. Como no inverno o sol nasce bem mais tarde, eu poderia aproveitar para cochilar, eram cinco e meia da madrugada e eu ainda tinha duas horas. Claro que tinha o medo de passar do ponto como ocorreu em Praga, mas ao menos não tinha o “Russo”. Dava para dormir numa boa. 

O ônibus ia silenciosamente cortando a cidade de Łódź, o sono me dominava e eu queria tirar aquele cochilo. Dormi. Mas não era aquele sono gostoso, era aquele sono tipo: “Ai meu Deus, onde eu estou?”. E você sabe que dormir assim é uma droga, né? Você não descansa direito e ainda não está completamente atento ao que está acontecendo. A cada cinco minutos eu acordava meio que no desespero. Além do mais, com esse negócio de neve e pista escorregadia, eu não confiava no motorista. 

Em um desses cochilos senti o ônibus parando. Era uma cidadezinha e o motorista parecia fazer hora lá. Eu acordei meio que no desespero, pois não sabia onde estava. Também não sabia que teria aquela parada antes de Varsóvia, mas como o motorista havia dito que só pararíamos no aeroporto, acalmei-me e voltei a “nanar”. 

A viagem continuava até chegarmos a uma via expressa. Nesse momento eu resolvi não dormir mais. Pela janela via a neblina se dispersar e já não me preocupei tanto. Meu medo era simplesmente “dormir no ponto”. O ônibus ia até rápido demais para as condições da pista, mas não havia curvas. De repente quebramos a direita. A frente havia um prédio grande, certamente o aeroporto. O ônibus aproximou-se de um estacionamento e parou. Desci com minha mochila e minha mini-mala. Era o aeroporto. 

Segui para o saguão principal. O aeroporto era um ovo, menor até mesmo que o de Aracaju, se é que isso é possível. Brincadeira, haviam dois saguões, eu fui ao primeiro, mas não encontrei informação alguma, então segui para o segundo onde pude ver guichês das agências de viagem. Uma bagunça. Foi então que vi em uma das telas onde mostra os vôos a acontecer no dia. Lá tinha o meu embarque, Köln-Bonn, e o horário que 
seria, com mais uma informação dizendo que o guichê ainda não estava aberto. Claro que não estava, ainda é sete e meia da manhã “carai”. Foi ai que resolvi. 

- Vou catar uma cadeira para tirar um cochilo. Assim eu chego na Alemanha descansado e tenho forças para dar uma volta logo pela manhã. 

Subi umas escadas e vi uns bancos acima junto a uma tela com os embarques. Era o local perfeito para o cochilo. Dava para olhar a tabela e estar sempre atualizado no horário. Fiquei lá por uns cinqüenta minutos, dormindo e acordando para olhar as atualizações na tabela. Era melhor do que nada. Fiquei lá na maior maresia do mundo. Até que apareceu que o guichê estava aberto. 

Desci as escadas e dirigi-me ao tal balcão. Era o primeiro e único da fila. A mulher me atendeu em alemão. 

- Ou minha senhora, não tem como falar inglês, não? 

- Desculpe. Passaporte, por favor. – falou em inglês. 

Bem melhor. Entreguei o tal passaporte e ela olhou para minha cara. Tudo nos conformes. 

- A sua bagagem, senhor. 

Bagagem? Eu só tinha duas malas que eram consideradas bagagem de mão. 

- Eu só tenho isso aqui. Preciso mesmo despachá-las? 

- O senhor tem direito a uma bagagem. O que deseja fazer? 

Despachei a minha micro-maleta vendo a cara da gringa com vontade de rir. Não tinha porque fazer aquilo, mas já que tinha direito, por que não? Peguei o meu bilhete e segui para a sala de embargue. E aquele mesmo esquema chato de esperar a boa vontade de deixarmos entrar no avião. Porque raios demora tanto? Tudo em aeroporto é demorado. Um saco mesmo. Após mais uma hora de espera entrei na droga do avião e em uma viagem relâmpago, já estava em Köln. Num deu tempo nem de folgar o sinto pra peidar. 

Aterrisamos e fui pegar a minha micro-maleta. O povo saia cheio de bagulho e eu com uma malinha do tamanho de um ovo de codorna que só mal dava para por as meias. Peguei minha tranqueira e sai do aeroporto, ou ao menos tentei. Meu primo e sua esposa falaram que estariam a minha espera, e não estavam lá. Fiquei com cara de tacho. Pro meu consolo não estava frio como na Polônia. E eu não sabia o que fazer. Peguei o celular e tentei ligar pro meu primo. 

OCUPADO. 

Tentei ligara par a esposa dele... 

OCUPADO. 

Danou-se. Por sorte eu tinha guardado o telefone de meu outro primo, em caso de emergência, e liguei para ele choroso. 

- Eae cara, beleza? Rapaz, acho que me esqueceram aqui pelo aeroporto. 

- Oxe, eu pensei que você chegaria mais tarde. Pera que vou ligar para saber o que aconteceu. 

Fiquei lá esperando com cara de bunda. Normal... Recebi a ligação. 

- Eles já estão a caminho, pensaram que você chegaria mais tarde. Espera o pouquinho aí que já já eles aparecem. 

E foi isso... fiquei mofando na porta do aeroporto esperando a boa vontade do povo aparecer.

BR Na Europa!

sábado, 6 de novembro de 2010

A Sogra

Uma vez a Sra. Hakkinen me disse enquanto me mostrava a cidade de Praga:

- Você é uma pessoa adorável, difícil não gostar de ti.

Em um sábado pela manhã fiquei pensando nisso quando Priceless Girl deu-me uma notícia:

- Ah! Esqueci de falar. Minha mãe quer que jantemos na casa dela amanhã a noite.

Geralmente quando estamos num relacionamento e temos que conhecer os sogros entramos em pânico, mas graças a frase da Sra. Hakkinen eu fiquei tranqüilo. Afinal, segundo ela, eu era adorável e as pessoas gostavam de mim. Haha.

- Tudo bem. Amanhã iremos.

- Tem certeza?

- Qual o problema? Ela não vai correr atrás de mim com uma faca porque estou namorando a filha dela, certo?

- Tudo bem, confirmarei nossa presença.

Sabe aquele sentimento de que se você conhece sua sogra é porque a coisa está ficando séria? Pois foi isso que senti. Tinha pouco mais de uma semana desde que voltei à Polônia e recebi esse convite. Acho que eu esperava por isso e assim não liguei muito, mas o sentimento de que a coisa estava ficando séria tomou conta de mim.

Se pararmos para pensar eu cai de pára-quedas na vida da Priceless Girl. Ela tinha uma vida tranqüila até eu invadir o apartamento, tomar parte do guarda-roupa, começar a fazer compras, passear, dividir as despesas, limpar a casa... Meu Deus! Era uma vida de casado sendo que eu era a Maria e ela o João! Não vou mentir que os meus dias assim eram bem cômodos. Jogava meu videogame quando queria, ia ao cinema, tinha sempre um trocado no bolso... Estava tudo muito bem. Na verdade não sei do que as mulheres reclamam.

O jantar havia ficado para domingo. Priceless Girl e eu já havíamos combinado de ir ao mercado e fazer algumas compras antes de irmos para casa de sua mãe e foi isso que fizemos. Saímos pela manhã e ela mostrou-me outro mercado onde as coisas eram quase a metade do preço. Sacanagem! Custava dizer antes? Assim eu não precisava gastar tanto. O negócio ficava perto de casa, dava para ir andando que em 5min eu estaria lá.

Indo para o mercado... brrrrr


Voltamos para casa para que eu me “embonecar”. Tomei um banho, fiquei cheirosão e era hora de encarar a sogra. Sinceramente não fiquei nervoso nem nada. Já não posso dizer o mesmo da minha namorada, foi a primeira vez que a vi tão nervosa com alguma situação. A primeira de muitas... Saímos de casa, pegamos um ônibus e assim fomos para a casa da sogrinha.

Realmente ficava bem próximo do albergue que eu havia ficado hospedado quando fui a cidade pela primeira vez. Seguimos para o prédio e Priceless Girl interfonou. Nem precisou falar nada e a porta se abriu. A mãe dela já estava esperando ao pé do interfone provavelmente ansiosa. Subimos a escada e alguns andares acima a porta se abriu.

Uma senhora nos recebeu, era a senhora Priceless com um sorriso no rosto. Abraçou a filha e cumprimentou-me. Aparentava ser uma pessoa bem simpática assim como a filha. Mas fisicamente elas eram bem diferentes, acho que apenas na estatura se assemelhavam. Além disso, a Priceless Girl sempre agia de forma enérgica enquanto sua mãe tinha uma expressão de pessoa que adora dormir. Isso não vem ao caso. Entramos e fomos para a sala.

A expectativa para o rango era grande. Muitas meninas já me disseram que se ganha um homem pela boca. Mas esse não era o “dom” da minha namorada. Ela sabe cozinhar, mas no geral é comida polaca e macarrão. Ela sabe fazer todos os tipos de macarrão que você imaginar. Além disso, tem uma panqueca divina, nunca tinha comido panquecas como a dela. Voltando à mesa, esperava dessa vez ser “laçado” pela boca.

A primeira refeição... Sopa. Se você me conhece a fundo, sabe que esse é um prato que nunca me agradou. 
Não importa o tipo de sopa, para mim é tudo igual. Como convidado não pode dar pitaco. Agradeci e tomei caladinho a minha sopinha. Estava até gostosa, mas sopa... Não é comigo. Enquanto colocava o rango para dentro, a Sra. Priceless começou a conversar. Fui surpreendido com o seu inglês, desde que tinha chegado à Polônia, ninguém com mais de trinta anos havia falado outro idioma comigo a não ser o polaco.

A sogrinha vendia a boa imagem de seu país enquanto eu finalizava minha sopa. Troquei o prato e a refeição principal estava a caminho. Eu não lembro direito o que foi que comemos naquele dia, mas certamente algo com batata, ou algo feito com batata, ou até mesmo batata ao molho madeira... Não sei.

Após a janta um chazinho para esquentar o peito e mais bate-papo. Priceless Girl deixou-me sozinho com sua mãe para olhar algo no computador. Eu continuava a conversar numa boa. Até que ela perguntou: (Essa conversa será postada em inglês por motivos de força maior)

- So, do you like Poland?

- Not really. At least your daughter makes me like it a bit.

- I know, it’s really difficult here in Łódź. For example, the streets are full of digs.

Nesse momento eu me segurei… Cheias de que? Parecia que ela havia falado “dicks”. A pronúncia é um pouco parecida, mas para eu ouvir aquilo algo estava errado... Para que eu trouxe o meu para cá? Haha. Claro que não ri na cara da mãe dela, seria de muito mau gosto.

- Err. Seria melhor pegar um dicionário para rever essa frase aí. – falei com um sorriso amarelo na cara.

Ela chamou pela filha para perguntar do erro. Priceless Girl não disse nada e então sua mãe foi pegar o dicionário para conferir.

- Oh dear... I’m sorry.

- Sem problemas. Acho que eu ouvi errado. De qualquer forma, melhor usar um sinônimo.

Eu ria por dentro, mas não podia mostrar. Que coisa... Cheia de “dicks”. Lá ele. O papo continuava e a coisa ficou mais séria. Ela começava as famosas perguntas sobre as intenções com sua filha. Aí sim a coisa apertou.

- E qual são suas intenções com minha filha?

- Não posso dizer ainda. Não depende só de mim. Gosto muito de sua filha, mas não posso definir nosso futuro sozinho. Ela também tem que mostrar o que deseja. Amo sua filha, mas não depende só de mim.

Meu Deus... Falei que amava a Priceless Girl do nada. Acho que foi o subconsciente. Nem eu sabia o que falar em seguida e mal consegui pensar. O palco estava armado e agora eu era o centro das atenções. Coração mole esse meu. Talvez estivesse gostando da minha vida de Maria. Vai saber. Ao menos fui salvo pelo gongo.

- Temos que ir para casa. – falou minha namorada.

- É melhor.

Despedimo-nos da Sra. Priceless e seguimos para casa. Eu queria que a viagem fosse em silêncio. Não aconteceu. Ela queria saber o que sua mãe conversado comigo.

- Nada de mais, só disse a ela que te amava.

BR Na Europa!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Em Nome do Vício - Final Capenga

O estacionamento era gigante. E estava cheio de áreas onde o gelo imperava. Eu derrapava muito, parecia mais o Michael Jackson, mas fazendo o “moonwalk” para frente. Não deu muito trabalho atravessar aquele treco, digamos que eu tinha o macete. O negócio era entrar no shopping, comprar minha muamba e cair fora dali. Mas você sabe como são as coisas, dinheiro no bolso e shopping são coisas que não combinam.

Entrei no bendito local pelo segundo andar. A primeira coisa que vi foi um supermercado. Como sempre andei com a mochila pensei em comprar alguma coisa para levar para casa. Já que estava na casa dos outros, comendo, dormindo, bebendo e gastando energia tudo na conta da Priceless Girl, fazer umas comprinhas não fariam mal. Eu não tinha aberto a dispensa para ver o que era necessário, mas queijo, presunto, coca-cola... Essas coisas sempre são bem vindas dentro de casa. Eu faria a tal compra após achar o local para comprar o adaptador pro meu vício. Saí da frente do mercado e comecei a caminhar.

Lojas, lojas e mais lojas, mas nada de eletrônicos. Nem mesmo uma loja de videogame achei. Seria possível? Parecia que sim. Dei mais uma volta pelo shopping para ter certeza de que não havia passado sem perceber. A única loja que tinha artigos eletrônicos era uma loja de departamentos, e uma livraria. O bendito adaptador não encontrei em nenhuma das duas. Onde seria essa bendita loja a qual a Priceless Girl se referia? Resolvi então perguntar ao velho guardinha.

Se você já esteve na Polônia alguma vez na vida deve saber que em algumas cidades quase ninguém fala inglês. Era o caso de onde eu estava. Como explicar o que eu queria? Não tinha nem como fazer gesto.

- Eletronics, eletronics...

E o cara me levou para uma loja onde se vendia TVs e geladeiras. Era de se esperar. Eletrodomésticos, eletrônicos... Tudo a mesma coisa. Agradeci e fiquei me perguntando o que fazer. Passando novamente pela praça de alimentação vi a minha solução. Havia uma loja do lado de fora e parecia ser de departamento. Seria ali?

Abri a mochila, tirei o casacão, agasalhei-me todo para encarar o frio novamente e segui para a tal loja. Entrei. Era uma loja de departamentos apenas de eletrônicos, certamente estava no lugar certo. Agora era achar o bagulho em meio a tantos adaptadores. Olhei, olhei e nada. Não achava a porcaria. Tinha adaptador de tudo que era tipo e modelo menos o que eu precisava na estante. O jeito era ir a um atendente e rezar para que ele falasse inglês. Dirigi-me a um senhor que trabalhava na loja e comecei a explicar a situação. Ele entendeu e levou-me para uma outra estante com adaptadores. Estava lá o que eu queria. Restava apenas pagar, passar no mercado, comprar uns bagulhos para comer e voltar para frente da TV iniciando o meu vício.

BR Na Europa!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um Breve Recado

Esse não é um post para contar histórias. O blog tem tido acesso de diversos países e fico muito feliz que toda a minha maluquice não está apenas sendo lida no Brasil, mas em vários países da Europa, Oceania e Ásia, até no Irã tem gente lendo. O interesse do pessoal pela história é legal e me deixa honrado de compartilhar minhas experiências.

Recentemente tenho recebido mensagens de leitores do blog pedindo que eu transforme minha história num livro. Seria interessante fazer isso se soubesse como fazê-lo. Cheguei a ler um pouco sobre o assunto e vi que muitas editoras trabalham com contratos independentes onde o "escritor" tem todo o custo de produção e a editora faz a logística e distribuição dos livros, isso no Brasil e aqui na Polônia. Isso custa um pouco caro dependendo da quantidade e eu não tenho fundos para isso. Portanto, caso você conheça algum empresário no meio literário e ele tenha interesse de publicar esse meu blablabla ficarei grato, mas de forma independente fica difícil. Além do mais, sei que não sou escritor e que o blog tem diversos erros de linguagem, concordância e afins, mas sabendo que até a Geisy Arruda e a Bruna Surfistinha têm livros, eu acho que também sou capaz uehuehuee.

Mais tarde posto o resto da história

Abraço a todos
BR Na Europa!


Ahh eu num gosto muito desse negócio de twitter não, mas quando atualizo o blog tenho postado lá também, então caso tenha interesse: @belinobr e caso queira me contatar para algo use email do blog =)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Em Nome do Vício - Parte 1

A minha volta a Polônia foi tranqüila. Sem transtorno na viagem, sem “russo” sem cerveja, tudo como manda o figurino. Priceless Girl buscou-me pela manhã na estação de trem e fomos para casa dela onde eu ficaria. Coloquei minha tranqueira toda no guarda-roupa, e ficamos conversando para colocar as novidades em dia.

Era estranha a situação, pois parecia que eu havia invadido a vida dela. Como o cara chega assim do nada, toma parte do guarda-roupa e diz que vai ficar até março? Eu era muito cara de pau. Eu não sabia qual seria meu destino após a Polônia, só sei que eu teria que voltar a Praga para embarcar de volta para o Brasil.

Os primeiros dias passavam e a coisa continuava a mesma. Pela manhã ela acordava e ia para o trabalho enquanto eu ficava em casa assistindo TV ou no computador fuçando a internet. Eu não podia sair de casa, porque caso saísse e batesse a porta eu teria que ficar na rua até que ela voltasse, o que poderia demorar um bocado. Priceless Girl tinha um emprego normal em uma companhia finlandesa, e a noite tinha atividades como instrutora de aeróbica em algumas academias. Portanto, ela poderia chegar até mesmo às 10 da noite. Era melhor não sair.

Após dois dias resolvi armar o Xbox e jogar um pouco. Era segunda-feira e não tinha nada para fazer. Ligar a TV e não entender nada do que se falavam não era legal. Era só blábláblá. Tirei o material vicioso da mochila e fui armando-o na sala. A TV que ela tinha era um “pouco” antiga, mas estaria tudo numa boa desde que funcionasse. Como não era esses modelos LCD, LED ou Plasma de hoje em dia sabia que o cabo HDMI não serviria de nada. Foi então que peguei o cabo para colocar na entrada AV. Virei a TV de lado e pimba! Não tinha AV. ¬¬

Era aquela entrada antiga que só se via na Europa. Eu precisava de um adaptador. Na caixa do aparelho sabia que encontraria, mas como levei na mochila, acabei deixando algumas coisas na casa dos Hakkinen, e o adaptador tinha ficado lá junto com a caixa com instruções e tudo mais. Não tinha outra opção, era sair para comprar o tal adaptador. Eu não quis arriscar ficar fora de casa até sabe-se lá que horas. Esperei para contar a minha decepção a Priceless Girl à noite.

Ao chegar em casa tive uma ótima notícia. Ela trazia consigo chaves para mim. Tinha pegado com sua mãe as chaves extras e deixaria comigo para que eu não ficasse preso em casa como um detento em condicional com aqueles rastreadores na perna. Fiquei feliz com a notícia e contei a ela sobre o problema com a TV.

- Você pode ir a uma loja em Manufaktura. Eles têm quase tudo de eletrônicos lá, certamente irá encontrar o que deseja. – disse ela.

Então era isso, durante a manhã eu iria ao centro tentar achar esse tal adaptador. Como estaria sozinho, seria o primeiro desafio lingüístico que teria na cidade de Łódź, e lembrando que tive uma péssima experiência em Katowice, sabia que aquilo não seria nada fácil.

Na manhã seguinte, após a minha namorada sair para o trabalho, resolvi me preparar psicologicamente para ir encarar meu desafio. Eu sabia mais ou menos o caminho a pé para o local. Não tinha o excelente mapa do McDonald’s comigo, teria que me virar. Vesti-me, fiz o sinal da cruz e sai de casa.

Estava frio lá fora, era neve acumulada em todo canto, gelo nas calçadas e um vento que parecia rasgar a pele. Nada disso importava, eu era guerreiro, precisava da droga do adaptador e não iria desistir por causa de um “friozinho bobo”. Saí do bloco onde estava e segui pela rua principal. Eu não tinha calçados para aquele tipo de ambiente. Usava um tênis baixo e marrom, que usara em Salvador para ir à faculdade. Então você imagina a situação, eu tentando andar e a neve que se acumulava e já batia quase no tornozelo, não deixando. Seria um árduo trajeto até o centro.

Andei pela rua principal e cheguei a um cruzamento.

- Hmm, acho que devo seguir adiante. Se não me engano a frente acharei uma pequena passarela que corta trilhos do trem.

Coisa linda é que na Europa você aproxima-se da faixa de segurança e os motoristas param. Param? Sim, eles param, mas não na Polônia. É raro um sacana parar para que você passe. E eu fiquei um bom tempo no cruzamento esperando um filho de Deus parar para que eu pudesse atravessar. E adivinha... Ninguém parou. 
O jeito era meter a cara e rezar para eles ao menos diminuírem a velocidade naquele asfalto escorregadio. Arrisquei-me e deu certo, quando eu estava no meio da faixa vi carros diminuindo a velocidade e parando enquanto eu estava na faixa.

- Hmm, então é assim que funciona aqui.

Saí andando numa boa e continuei seguindo a rua. Andar naquela neve parecia como na arei de praia, acho que por isso esse povo polaco desenvolveu pernas tão fortes. Três meses andando em toda aquela neve não teria como haver outro resultado. Seguia pela calçada, e logo vi a passarela. Subi as escadas e atravessei-a. Cheguei a uma avenida e precisava atravessar. Esperei que o sinal fechasse e atravessei-a. Deveria seguir em frente? Eu não lembrava direito, mas o senso de direção dizia que deveria. Eu saberia que estaria perto quando visse uma bicicleta pintada de branco que pertencia a um rapaz que havia morrido atropelado ali.

Eu continuava a me “arrastar” pela neve tentando ver a tal bicicleta branca. Avistei-a de longe e então percebi que não estava perdido. Estava chegando perto dela quando algo um tanto quanto inusitado ocorreu. Uma pessoa estava tirando a neve da varanda do apartamento e eu não tinha percebido. Ao passar perto recebi uma rajada de gelo na cabeça. Maldição. Acho que eram cerca de 6kg na minha cabeça. Não deu nem tempo de reclamar com o sacana que jogou aquilo em mim, quando olhei para cima não vi mais ninguém. O jeito era limpar-me e continuar o percurso.

Após a bicicleta havia um muro gigante e um clima um tanto quanto sinistro. Acredite, a cidade é bem esquisita quando se vê pela primeira vez e no inverno parecia uma cidade fantasma. O muro pertencia a um cemitério e eu odeio cemitérios. Tudo que mais queria era sair daquela área. O muro parecia não ter fim. Andava o mais rápido possível para passar por aquilo e enfim vi um semáforo adiante. Era o ponto de chegada.

Atravessei o sinal e um estacionamento que vinha logo à frente. Estava num shopping chamado Manufaktura. O que restava era apenas achar a tal loja que Priceless Girl havia indicado.

BR Na Europa!