quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Köln - Início de Noite



Era cerveja que não acabava mais. Beber com minha raça é um pouco sem noção, pois parece que eles vão beber todas as cervas do bar. O problema é que aquilo também era uma fábrica e ali não tinha como tomar TODAS! Foram muitas acredite, e até a mulher do meu primo já estava preocupada. A partir de agora nomearei os primos para que fique mais fácil a identificação, caso contrário até eu me perderei. Então chamemos os cabras de: primo1 e primo2, sendo o primo1 aquele que me buscou no aeroporto e primo2 aquele que fomos encontrar no centro da cidade. Hehe.

- Não já chega? Já estamos bebendo muito. – falou ela.

Se você um dia foi a Bahia sabia do vício de beber e com eles temos nomes para a última cerveja antes de irmos embora: Saideiras, sipiqueiras, de Jair, a última, a finada... É uma coisa sem fim. Mas já ficava tarde e a conta também ficava cada vez mais gorda. No mais, ainda tínhamos de jantar. Sim, naquela noite teríamos um jantar em família. Talvez me livrasse das batatas que tanto comia na Polônia e ficaria contente com um feijãozinho. Claro que a mulher de meu primo, a qual cozinhava, era vegetariana, então podia-se esperar de tudo.

A conta foi paga e podíamos deixar a taverna. As pernas se entrelaçavam mas eu ainda não estava no meu pior estado. Tudo que eu precisava era de um banho e tudo estaria lindo novamente. Um banho cairia bem, eram mais de vinte e quatro horas de inhaca e agora com bafo de cachaça. Era de mais pra mim. Justo eu que sempre falei mal dos europeus de que não gostam de banho, estava seguindo o mesmo exemplo. Claro que tinha um bom motivo... a cerveja. Mas nem eu aguentava o meu fedor.

Rumamos para casa visando o rango. Já estava meio faminto e o povo ainda me inventa de andar. Vício de europeu em achar que tudo é perto. Odeio andar. Passos e mais passos debaixo de uma garoa, ao menos o suor não escorria. Fazia frio e o vento parecia cortar a pele. Não era como na Polônia e o álcool também aliviava o frio, mas depois de um tempo tomando aquele vento na cara, eu já não sentia o nariz ou as orelhas.

Finalmente chegamos a casa e eu podia tomar meu banho. Não foi o famoso banho de gato, mas também não foi um banho demorado. Fiquei cheirosinho de novo e pronto para uma nova rodada. A mesa já estava arrumada e só faltava o rango aparecer. Entreguei uma camisa da seleção polaca ao primo2 para que ele desse ao meu pai como souvenir. Enquanto isso mais cerveja.

Quando a mulher de meu primo anunciou a janta à mesa meus olhos brilharam de alegria. Meu primo havia preparado um franguinho e ela os outros pratos. Sentamos a mesa e fui logo avisado:

- Belino, sei que você deve estar meio cansado desse tipo de comida, mas hoje comeremos... BATATA.

Jantar em família

E mais batata para alegrar


Que dor no coração. Mais batata para que eu engordasse. Definitivamente eu não voltaria a comer batata por uns três meses. Já não aguentava mais ver a cara daquele maldito caule que só nos faz engordar. Claro que educadamente falei:

- Sem problemas, eu até já me acostumei a comer esse treco amarelo.

Claro que tínhamos outros pratos, mas a batata seria o nosso “arroz” e acho que se não a comesse eu passaria fome o resto da noite. Todavia a comida estava excelente, eu só não pude exagerar no champignon porque o efeito é desastroso em meu rosto, fora isso comi feito um porco esfomeado.

Fotos, risadas e despedidas... Sim, o primo2, o qual demorei a encontrar e achei em frente à loja, estava indo para o Brasil com vôo logo pela manhã. Então após o rango, eu passaria na casa dele para conhecer a morada e pegar umas camisas para mim também. Vale lembrar que eu viajei apenas com vinte quilos de roupas, ou seja, o meu repertório não era lá tão grande e eu começava a repetir roupas demasiadamente, o que não era bom para a minha imagem de “galã de novela” uheuehueh. Claro que poderia comprar, mas eu começava a ficar mão de vaca devido à diminuição de minhas reservas.

Após a janta seguiu-se o plano. Seguimos para o metro, rumamos para o centro e de lá para o apartamento. Ahh, pára tudo. Esqueci de dizer que antes precisávamos esquentar o peito, então paramos num mercadinho para comprar Jägermeister, uma bebida alemã que parece ser feita de ervas e quando desce esquenta o peito que é uma beleza. E apenas após uma dose desse treco que fomos para casa. O lance era o seguinte. Eu estava com minha mochila velha de guerra, botei as coisas dentro e então deveria encontrar o meu outro primo em frente a um bar.

Acredite é uma ótima bebida. Se tiver oportunidade beba.


Como desculpa, primo2 disse que me levaria ao metro para que eu não me perdesse. Eu já estava pra lá de Bagdá, mas me perder ali era meio difícil. Saímos de casa e ele falou que havia um bar brasileiro que deveríamos ir. Acho que ele também estava meio desajuizado, também... bebemos o dia todo. Era explicável. Mais uma paradinha para outro shot de Jägermeister e tudo estava lindo. Seguimos para o tal clube brazuca onde rolava um pagode. Um pagode sempre cai bem, ainda mais para mim que já tinha alguns meses que não via um. Entramos no tal bar e ele tinha bem pouca gente. O pagode rolava com uma bandinha até boa, mas sem gente dançando nem nada disso. Tomei mais uma cerva com o primo2 e dei um tempinho por lá.

O pagode não animou muito, engraçado era ver os BRs fazendo cara de espanto quando eu falava que estava na Polônia: “Mas lá não é muito frio?”. Perguntaram três garotas que estavam no pagode. Claro que é frio aqui nesse fim de mundo, mas se tem alguém para te esquentar tudo fica lindo certo? Não era sempre como estar em Katowice sofrendo...

O celular tocou. Primo1 esperava-me ansioso. Ele queria saber onde diabos eu tinha me metido com primo2, além do mais, a mulher de primo2 estava tensa querendo saber porque ele demorava tanto, e ele no pagode, é mole? Como estava combinado eu iria ao encontro do primo1, até porque primo2 precisava muito ir para casa descansar, afinal ele teria que encarar uma pequena jornada de 10h de vôo, fora a viagem de trem de Köln até Frankfurt. Só de pensar fico cansado. Despedi-me do primo2 e desejei-lhe boa viagem, sai do bar.

No telefone o primo1 continuava a falar:

- Pega qualquer comboio ai onde você está e vai para a esquerda, na primeira parada você desce. Eu estou em frente a uma farmácia.

Fiz como ele disse. Peguei o primeiro trem urbano que passou e fui nele por uma parada, mais uma vez sem pagar, já na mão de vaquice. Desci e vi a farmácia. Fui até a porta e não vi o infeliz do primo1. Àquela altura do campeonato eu já não fazia idéia de como ir para casa. O celular estava com a bateria quase esgotada, mas tocou novamente. Quando atendi a bateria descarregou... eu estava perdido, meio bêbado, e em meio a uma multidão que andava de um lado para o outro no centro da cidade. Estava frito.



BR Na Europa!