quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Pior Viagem da Minha Vida - Parte 3

Tinha cerca de uma hora e meia antes do próximo trem para Łódź. Eu estava tremendo de frio e como eu disse precisava de um café ou algo quente com urgência, mas antes... precisava tirar água do joelho. Como eu havia bebido muita cerveja e só fui uma vez no banheiro do trem, a coisa estava apertada.

De longe vi a indicação. Ficava dentro de um estabelecimento. Vê se pode, banheiro público dentro de uma lojinha. Parei rapidinho no caixa eletrônico e tirei cem Złotys (cerca de 68 reais) porque eu não tinha dinheiro polaco comigo, só tcheco e brasileiro. Corri com minha mochilinha em direção ao banheiro no desespero. Quando cheguei à porta, fui barrado.

- Nie, nie, nie! Dwa złoty! – falou um rapaz que estava na porta.

Sei lá que zorra era “divá e zuote”! Não sabia nada em polaco e o cara ainda falava embolado. Percebi uma velhinha sentada na porta do banheiro. Parecia ser a dona. Debaixo da cadeira onde ela estava havia alguns produtos de limpeza, então entendi o recado. Eu precisava pagar para usar aquela bosta. Não tava nem aí, se fosse vinte contos eu pagaria, tava me mijando todo. Peguei a nota de cem e entreguei a velhinha, entrei correndo no banheiro na tensão, deixei para pegar o troco depois. Abaixei as calças e não achei nada! Eu nunca tinha visto meu bilau tão pequeno, o frio deixou-o miúdinho. Senti-me meio homem, mas tão meio homem, que se ele diminuísse um pouquinho mais eu falaria fino e me chamaria Belina. Que situação!

Fiz minhas necessidades, botei uma cueca a mais e cai fora do banheiro. Estava limpo o ambiente, infinitamente mais limpo que a estação de trem que fedia devido aos pombos que lá ficavam tentando se proteger do frio. Sai de lá aliviado. Ao passar pela porta eu fui pegar meu troco na mão da senhora que estava sentada e o rapaz que estava com ela começou a resmungar de novo. Pegou a nota de cem que eu tinha dado e me devolveu. Ué?! Algo de errado com minha nota que acabei de tirar no caixa eletrônico?  Sim, eu tinha dado uma nota de cem coroas tchecas. Haha. Era o costume.

Resolvi a situação com o carinha e peguei meu troco. O frio estava insuportável dentro da estação. Vi uma lojinha e comprei tocas e outro par de luvas para colocar por cima das que eu usava porque eu já não agüentava mais. Paguei e segui para a cafeteria. Ao entrar... Ahhh que calorzinho gostoso... aquilo era o céu dentro do inferno que era a estação de Katowice. Pedi um cappuccino e um bolo de chocolate. Precisava repor as energias após o dilema do “russo”.

Enquanto comia na apertada, porém calorosa cafeteria, um grupo se aproximou falando em inglês:

- Ah cara, onde diabos fomos nos meter? Isso aqui é o inferno! Culpa sua!

Eu sabia o que eles estavam passando. Perguntava-me a mesma coisa o tempo todo. Como aquela cidade tão assombrosa poderia fazer parte de um país europeu? E o que é que eu fazia ali? Vai saber. Nesse meio tempo um polaco se aproximou. Ele queria sentar na mesma mesa que eu. A cafeteria era bem pequena e tinha poucas mesas, três exatamente, e eu ocupava uma com duas cadeiras a qual uma estava vazia. Liberei o cara sentar porque não sou sacana.

- De onde você é? – perguntou em inglês.

- Brasil.

- Hmm, que ótimo. Lugar quente sempre, né?

- Depende da região.

- Sempre tive vontade e conhecer o Brasil.

Porra! O cara falou isso piscando o olho que parecia brilhar. Mais um gay nessa viagem! Ah não! Chega disso!

- Boa sorte, você vai gostar.

Virei a xícara de café e cai fora dali. Tanta viadagem meu Deus... Já estava demasiado isso. Segui para uns banquinhos que ficavam em frente ao guichê de informação. Preferia passar frio a ter que aturar aquele baitola. Eu ainda tinha meia hora até o trem aparecer. Olhei o banquinho e sentei. Comecei a congelar em menos de dois minutos. Ali eu não agüentaria ficar parado. Já havia tido a experiência em Praga, mas menos vinte e três graus marcados no termômetro era demais. Vi uma plaqueta de linhas de trem na Polônia e fui observar. Talvez lá estivesse o nome das cidades que iria passar antes de chegar ao meu destino final.

Fiquei lá olhando a plaqueta e lendo um monte de nome de cidade estranha. Eu só conhecia de nome Varsóvia e Krakóvia. O resto nunca tinha ouvido falar, nem mesmo para onde eu estava indo. Enquanto olhava duas garotas se aproximaram. Seria meu dia de sorte e teria duas lindinhas para me aquecer? Na verdade uma só, porque a outra era feia que doía. Aproximaram-se e uma delas soltou logo o verbo em inglês:

- Bom dia, senhor. Vejo que o senhor é estrangeiro. Estamos aqui para falar da nossa igreja e do evento que estamos organizando para este final de semana. Gostaríamos muito de sua presença. O senhor freqüenta a igreja?...

Ela não parava de falar, mas na moral, era a versão do povo da Universal do Reino de Deus polaca. Já não bastava no Brasil, agora aqui também. Fui simpático com elas porque uma delas era bonitinha. No fim ganhei dois livros e um beijinho na bochecha. Ao menos valeu a paciência. Pelo ou menos não era o gay da cafeteria.

A hora do trem partir se aproximava e eu segui para plataforma de embarque. Identifiquei o trem pela plaquinha na lateral e entrei no vagão, catei uma cabine vazia e acomodei-me. No trem fazia um calorzinho bem gostoso devido aos aquecedores, eu precisava disso. Tirei aquele monte de casaco e fiquei mais a vontade. Sentei, liguei o chIpod e esperei o trem partir.

Continua...

BR Na Europa!

P.S.: Eu só gostaria de lembrar que não tenho nada contra russos, o cara no trem poderia ser de qualquer nacionalidade, até mesmo brasileiro, portanto querido amigos russos, não se chateiem com a história. 

3 comentários:

  1. bolas essa gente das igrejas é muito chata mesmo, então quando nos acórdão de manha porque vem bater a porta da vontade de os matar

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  2. Ta muito legal o Blog!
    Vc tem quase tanto azar quanto eu...
    =P O importante é ter historia para contar para o netos. né?
    Inmate

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  3. @nao na verdade eu nem ligo muito... passo despercebido muitas vezes por eles, mas dessa vez me pegaram de surpresa.

    @Oscar valeu Inmate =)

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