quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Pior Viagem da Minha Vida - Final

O último trecho da viagem parecia que seria tranqüilo. Sem neve e apenas com um frio de rachar, rezei para que o trem não quebrasse novamente. Enquanto me acomodava na cabine do trem, uma mulher se aproximou da porta e entrou. Não era muito bela, acho que nem dava pro gasto. Ela se desagasalhou toda e voltou para janela onde parecia falar com alguém em inglês.

Fiquei de longe observando, mas não dei muita corda. Peguei o velho chIpod com a bateria quase esgotada e coloquei um som legal para relaxar. Era dia e talvez não sofresse outro ataque de um doido tentando roubar meus pertences. Eu não sabia nem onde teria que descer do trem, quer dizer, eu tinha o local anotado, mas do jeito que a coisa estava indo, era capaz das placas de indicação estarem cobertas de gelo e eu passar da estação que deveria sair do trem.

Vi a mulher acenar para o rapaz do lado de fora do trem, um polaco certamente. Ela entrou novamente na cabine e fechou a porta. Ainda bem que fez isso, pois como a janela de onde ela estava encontrava-se entreaberta, o vento frio invadia a cabine e não tinha aquecedor que desse jeito. O trem começou a se mover lentamente, era o começo do último trecho da viagem.

A mulher abriu um livro, vi pela capa que era italiano e pensei comigo: “uma vez me falaram que as italianas eram as mais belas, que decepção.” E realmente, a molequinha era feia tadinha. Cara de mulher doida, daquelas que na cama pode te depilar com cera quente, e depois jogar mais cera pra te grudar na cama. Não puxei papo. Apenas curti a paisagem branca.

Após cerca de uma hora de viagem, paramos na terceira estação para pegar mais gente, o problema é que o trem não andou novamente. Adivinha o motivo? Isso mesmo, cabos de energia congelados. Era muita falta de sorte. Eu já estava cansado daquilo tudo, mas não tinha como voltar atrás. Já estava a mais da metade do caminho e voltar a Praga dali poderia significar mais dez horas dentro de uma cabine, ou até mesmo outro encontro com “o russo”. O jeito era seguir em frente.

Enquanto esperava a suposta italiana parou de ler e olhou para minha cara.

- Com licença, você tem idéia do que aconteceu?

- Sim, os cabos estão congelados, por isso os aquecedores pararam. Estamos sem energia.

- Ah, ok. Tem idéia de quanto vai demorar?

- Não, eu não falo polonês, mas a última vez que aconteceu comigo durou três horas.

- Hmm. Espero que não demore tanto. De onde você é? – ela começou a puxar assunto.

- Brasil.

- Mora aqui na Polônia?

- Não, só estou de passagem. Vim visitar um amigo.

- Ah! Eu também, aquele rapaz que eu acenei é meu amigo em Katowice. Vou visitar outro amigo em Lodz e em Varsovia. Depois vou a Noruega visitar outro amigo, sigo a Paris para visitar mais um e volto para casa na Itália.

É ela era italiana, tinha a confirmação. Mas que tanto amigo é esse? Se fosse o que eu estava pensando era uma quenga. Haha. Também não dei bola. Já não era bonita e ainda com tanto amigo, desconfiei. Recoloquei o chIpod nos ouvidos enquanto o frio se alastrava pela cabine. A italiana entendeu que eu não estava a fim de papo, mas de vez em quando olhava para mim com um sorriso na cara. “Não, eu não vou te pegar não minha filha, você é bem fraquinha!” pensei comigo.

Aquilo era um purgatório. Estava certamente pagando os meus pecados com tanta espera e tantas quebras para chegar ao meu destino. Dessa vez durou um pouco menos, uma hora e meia. Aproveitei para tirar um cochilo. Algumas vezes o aquecedor dava uma ligadinha e aquecia um pouco a cabine, mas logo parava. Era só para sacanear o peão aqui. Mas o pouco que aquecia alegrava um pouco, estava muito, muito frio, e minha pele se ressecava de maneira rápida.

Quando finalmente partimos acho que até a italiana rezou para que o trem não parasse novamente. E graças a Deus não parou. Aquilo simplesmente era insuportável. Um frio da zorra, cansaço, fome, sede, fedido a cerveja... tudo se misturava e tornava meu dia péssimo. Você pode estar pensando o porquê não dar um amasso na italiana para me esquentar um pouco... mas cara, era feia.

O trem se aproximava do destino. A italiana “bonitinha” iria soltar uma parada antes de mim. Eu iria para Kaliska, uma estação próxima a casa da Priceless Girl que a essa altura já me esperava. O meu coração palpitou um pouco, pois esse negócio de encontrar gente que você só viu na internet é sempre complicado. A italiana desceu em Widzew, uma estação antes. O trem continuava a seguindo até que vi o letreiro escrito: Kaliska.

Sai do trem naquele frio de matar e vi uma loirinha, tão agasalhada que estava irreconhecível, me esperando. E após longas dezoito horas de viagem aproximei-me com minha cara de pau e disse:

- Hey! Como vai?

BR Na Europa!

2 comentários:

  1. Mas a Italiana era tão feia assim??
    pior que a famosa gorda?? hahaha

    Zueira Belino!

    Inmate

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  2. Encontros desse tipo são sempre emocionantes ainda mais depois de 18 horas de uma viagem quase insuportável xD aushaUshaUSh!

    Boa Belino!

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